Em qualquer outro estudo, você vai encontrar uma associação positiva entre a vitamina C e a prevenção do câncer. Esse nutriente é um poderoso antioxidante, dessa forma, ajuda a manter a saúde da célula em dia. Isso porque os radicais livres (superóxido, peróxido de hidrogênio e os radicais hidroxila) têm um elétron a mais e tendem a se ligar a outras moléculas, prejudicando a mesma. O antioxidante se liga a esses radicais livres e deixa as células trabalharem melhor.
Dessa forma, pressupõe-se que a ingestão de antioxidantes, como a vitamina C, possa ser benéfico para a saúde celular e, consequentemente, evitar o desenvolvimento de um câncer. Mas não é exatamente isso o que afirma o estudo publicado na revista científica Free Radical Biology and Medicine. Mas será que é verdade que vitamina C causa câncer? Conheça o estudo!
É verdade que vitamina C causa câncer?
A história não é bem essa. Na realidade, o que o estudo descobriu foi que as células cancerosas, assim como as saudáveis, utilizam a vitamina C para ficarem mais fortes. Essa mesma vitamina C, que ajuda o corpo a se recuperar, atrapalha o tratamento quimioterápico, deixando o câncer mais resistente. Isso faz sentido, afinal, apesar de estar funcionando de forma indevida, não deixa de ser uma célula.
O estudo, que levou 20 anos para ser finalizado, mostra que há sim uma forte ligação entre a vitamina C e a resistência do câncer. Liderada pela médica Coralia Rivas, uma equipe de professores da Universidade de Concepción, do Chile, publicou sua descoberta na revista científica Free Radical Biology and Medicine.
Eles estudaram como o tumor se alimentava, descobrindo que 20 diferentes tipos de câncer reciclavam a vitamina C para ter energia. De acordo com a médica pesquisadora, Rivas, “se olharmos a partir de um contexto das células, as cancerígenas não sabem que são ruins, sabem de que necessitam para sobreviver”.
Como funciona?
Para entender como isso funciona, você precisa saber que dentro do corpo, há duas formas de vitamina C: uma que já está oxidada, que é chamada de DHA ou desidroascórbico, encontrando-se em locais de alta oxidação, como os tumores; e a AA ou ácido ascórbico, aquele velho conhecido com função antioxidante, encontrado nos alimentos.
O que o estudo descobriu foi que a célula cancerígena absorve esse DHA através de um transportador próprio (SVCT2) e, ao levar para a mitocôndria, garante uma energia extra e maior sobrevida. Isso porque a DHA passa por um processo de “reciclagem” dentro da própria célula, transformando-a em AA novamente. Dessa forma, ela se fortalece e diminui a eficácia dos tratamentos.
Além disso, outra anomalia foi descoberta. Uma célula cancerosa tem uma capacidade muito maior de estocar a vitamina C em seu interior, se comparada a células saudáveis. Foram testadas células mamárias, da próstata, de leucemia e outros 17 tipos, tendo esse mesmo resultado em todas elas. Isso tudo por causa do transportador, que fica dentro da célula e leva a DHA até as mitocôndrias.
Soluções apresentadas
Dessa forma, os pesquisadores estão tentando encontrar uma alternativa para impedir que o transportador SVCT2 atue nas células cancerosas, cortando assim sua principal forma de alimentação. Para eles, não é uma questão de deixar de ingerir um nutriente fundamental para o corpo, e sim descobrir como fazer para que não seja transportado para dentro da célula doente.
De acordo com a nutricionista Georgia Oliveira, do grupo Oncologia D’or, a vitamina C “tem papel protetor para nossas células e está envolvida nos mecanismos de defesa do nosso corpo, ajudando no combate ao câncer”. Lembre que a célula doente consegue pegar a vitamina já oxidada e reciclar, ou seja, não é o ácido ascórbico, mas sua versão modificada.
Isso não quer dizer que você vai sair tomando uma grande quantidade de vitaminas, sem o acompanhamento do seu médico ou nutricionista. É fundamental que toda mudança ou suplementação na alimentação, seja orientada e embasada em experiências prévias, por alguém com conhecimento da área.