Muitas pessoas cresceram sofrendo violência psicológica sem saber identificar que viviam um problema grave. Quando esse tipo de violência acontece desde a infância, acaba ficando tão camuflada a ponto de a vítima acreditar que é culpada pelo tratamento violento ou indiferente que recebe do seu agressor. Então, o primeiro passo para combater e impedir que as crianças de agora não tenham que passar por esse trauma é falar sobre o assunto.
O que é violência psicológica?
Por longos anos foi considerado comum os adultos tratarem as crianças e os jovens com palavras agressivas e ofensivas ou mesmo com chantagem emocional, acreditando que assim estariam educando para a vida. A educação sempre foi voltada para a obediência e o medo, ao invés de ser voltada para o respeito mútuo.
Ainda hoje as sociedades do mundo sofrem as sequelas desse comportamento que deixa marcas, muitas vezes, irreversíveis. Na maior parte das vezes, quem foi criado com violência psicológica vai criar seus filhos da mesma forma, pois não conhece outro jeito de o fazer.
A violência psicológica é crime e está no artigo 7º da lei Maria da Penha: “Constrangimentos, ridicularização e perseguição, entre outras ações causadoras de danos emocionais”. E não é válida apenas para as mulheres, e sim, para qualquer indivíduo, em qualquer idade ou situação de vida.
Para deixar mais claro, a violência psicológica pode ser classificada de diferentes formas:
- Verbal: quando são proferidos xingamentos e obscenidades que desclassificam o outro e o julgam como incapaz;
- Indiferença: o tratamento com neutralidade, descaso ou omissão também é violento, quando é usado para bloquear a conversa e o relacionamento entre pessoas que deveriam interagir por conviverem, como pais e filhos ou casais;
- Perseguição: a perseguição é o atual bullying, no qual não basta um único episódio de agressão verbal, e sim, uma sequência deles, podendo ser por alguém conhecido ou não;
- Discriminação e intolerância: essa violência é frequentemente usada por pessoas que têm preconceito quanto à cultura, características pessoais, crenças ou valores do outro;
- Provocar a dependência: fazer a pessoa acreditar que é incapaz de viver e tomar decisões por conta própria;
- Chantagem: o agressor determina que deve receber uma satisfação imoral ou retribuição para que aceite suprir uma necessidade do outro, isentá-lo de alguma punição ou lhe oferecer um tratamento respeitoso.
Como reconhecer?
Como você viu, a violência psicológica é agredir e ferir o outro usando as palavras ao invés da força física. Por não deixar sinais físicos, acaba sendo mais difícil de reconhecer. É possível desconfiar que algo está errado na vida de alguém que sofre com esse tipo de violência, pois vai refletir no seu comportamento.
Dependência afetiva
Em muitos casos, a vítima que está psicologicamente abalada acaba por acreditar que depende do seu agressor, como se não tivesse ela a capacidade de tomar decisões sozinha. A pessoa fica fragilizada a ponto de não conseguir dar um fim nos episódios de agressão psicológica.
Em alguns casos a vítima permite-se acreditar que o seu agressor não faz isso por mal, e sim porque não consegue se controlar ou porque quer o seu bem. Então o defende perante os outros e o perdoa, com sofrimento, e mantém a situação por longos anos como se eles fossem cúmplices e isso os tornasse mais unidos.
Baixa autoestima
A pessoa que é dominada pelo seu agressor, que lhe trata constantemente de forma tensa e ofensiva, ouve tantas vezes o quanto ela é inferior, incapaz e dependente, que acaba acreditando nisso. Passa ver a si mesma como feia, que faz tudo errado e que não vai conseguir nada na vida. Que é melhor aceitar e se conformar do que tentar realizar seus desejos e sonhos.
Medo e insegurança com risco de evoluir para transtornos mentais
Dependendo do tipo de violência psicológica, pode-se perceber que a vítima tem um comportamento baseado na insegurança e no medo do que ela acredita ser proibida ou incapaz de fazer. Esse comportamento pode levar a transtornos mentais de várias vertentes, como de ansiedade, de humor, alimentares e de personalidade.
Comportamento violento com os outros
Muitas vezes, quando está longe do seu agressor, a vítima vai agir com o mesmo tipo de agressividade que sofre. Para bloquear seu medo e insegurança, pode tratar seus familiares, colegas ou pessoas desconhecidas usando um comportamento agressivo, seja física ou psicologicamente.
Como combater?
Além de atuar sobre a prevenção desse tipo de violência, faz parte do processo tratar quem já sofre com ela e quem a pratica, que quase sempre também é ou já foi uma vítima. É um conjunto de atitudes que precisam atuar simultaneamente na busca de uma mudança no comportamento e nas crenças sociais. Cada indivíduo pode fazer a sua parte.
Denuncie ou converse
Se você presenciou ou está desconfiado, por sinais claros, que alguém do seu convívio sofre com esse tipo de violência, precisa denunciar. Se estiver com medo por achar que podem haver consequências de risco à vida, converse com alguém da sua confiança que vá lhe ajudar a fazer algo a respeito, mas não seja cúmplice da situação. A denúncia pode ser feita na polícia, na delegacia da mulher, na defensoria pública ou no juizado de menores. Também na direção da escola ou na diretoria da empresa, conforme o caso.
Procure apoio profissional
Se você for a vítima e tiver consciência de que está sofrendo com esse tipo de violência, seja em casa, no trabalho ou no seu círculo social, mas não sabe o que fazer a respeito, procure ajuda. Um terapeuta ou psicólogo vai saber lhe orientar em todos os sentidos para que comece uma mudança para melhor na sua vida.