Os impactos positivos do videogame são maiores do que os negativos, que só surgem quando a presença do game é exagerada, desequilibrada. Muitos pais pensam que os games são vilões, mas a verdade é que os jogos adequados, pelo tempo adequado, contribuem de várias formas com as habilidades das crianças, jovens e até dos adultos.
Mãe e cientista – uma mudança de perspectiva
A neurocientista cognitiva Daphné Bavelier, que também é mãe de três, pensava que o videogame era uma perda de tempo na vida dos filhos.
Ela mudou de ideia ao realizar um estudo no qual usou eletrodos presos ao couro cabeludo de jogadores para entender o que acontece no cérebro enquanto se joga videogame.
“Como mãe de três filhos, eu pensava que era um tempo perdido. Como cientista no laboratório, fiquei muito surpresa ao descobrir que alguns videogames têm efeitos positivos no cérebro e no nosso comportamento”.
Os benefícios do videogame
São os jogos de ação que trazem os mais significativos benefícios cognitivos. Esses jogos estimulam a concentração, o foco e o raciocínio rápido, além de treinar a capacidade estratégica e a resiliência para recomeçar. E não só isso, como reforçou a cientista:
“Jogos de tiro em primeira e terceira pessoa realmente reforçam o quão bem você presta atenção. Eles também melhoram o quão bem você enxerga ou escuta — o que chamamos de percepção. E revelam ainda uma melhora acentuada na cognição espacial, na memória de trabalho e na capacidade multitarefa”, afirmou Bavelier.
Durante o game, o cérebro está sendo treinado, como acontece com o corpo na academia. “Nós ativamos uma rede de áreas no córtex frontal, outras no córtex parietal —uma rede que é conhecida por ser responsável pela atenção descendente. Essa rede fica mais reforçada e muito mais eficiente no processamento de informações”, explicou a neurocientista.
No estudo, os jogos de ação também demonstraram aumentar a massa cinzenta em uma área associada ao raciocínio abstrato e à resolução de problemas.
Pode parecer o contrário, mas a visão também é beneficiada quando existe equilíbrio no tempo e frequência de jogo. Jogar 50 horas de games de ação por nove semanas – um pouco menos de 1 hora por dia – melhora a sensibilidade ao contraste.
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Somente os jogos de ação e estratégia são tão benéficos
É importante deixar claro que jogos de tiro não estimulam a violência na vida real. Aliás, os jogos estratégicos de ação podem até ajudar no alívio das tensões. Além disso, jogos de ação não precisam ser violentos.
O importante é que os games tenham ação e estratégia. No estudo, foi percebido que outros tipos de jogos mais calmos não trouxeram os mesmos benefícios cognitivos.
“Fazemos estudos de treino em laboratório, em que pedimos que os participantes pratiquem jogos de tiro em primeira ou terceira pessoa ou outros tipos de jogos, como jogos de simulação social ou jogos de quebra-cabeça. E descobrimos que apenas aqueles que treinavam jogos de tiro em primeira e terceira pessoa apresentavam essa atenção aprimorada”, revelou a neurocientista.
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E quanto aos impactos negativos do videogame?
Como foi dito antes, o impacto negativo ocorre quando não existe controle sobre o tempo de jogo e equilíbrio com outras atividades. Trabalho, estudos, jogos no mundo real, mexendo o corpo e socializando, devem ter seu espaço também.
Se não houver essa separação, muitas pessoas com tendência a vícios, que descobrem uma fuga nos games, podem desenvolver vício em videogame.
Esse vício foi reconhecido como doença pela Organização Mundial de Saúde – OMS e agora faz parte da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde, chamada CID-11.
Nela, o problema do vício em games é definido como “um padrão de comportamento caracterizado pela perda de controle sobre o tempo de jogo, sobre a prioridade dada aos jogos em relação a outras atividades importantes e a decisão de continuar de frente à tela apesar de consequências negativas”.
Essas pessoas com tendência ao vício em videogame são “fisgadas” pelas estratégias dos fabricantes dos jogos. Eles fazem o jogador ficar por mais tempo e querer jogar sempre mais.
“Há diferentes mecânicas de jogo que podem levar a um comportamento mais ou menos insalubre. E, na verdade, os games que parecem ser jogados mais compulsivamente são aqueles em que não há um final claro. Portanto, há uma responsabilidade do ponto de vista dos designers de jogos em definir um final claro para as partidas”, diz Bavelier.
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Fonte: UOL Viva Bem