O processo de envelhecimento, obviamente, é regido pelo corpo, através da regeneração (ou a falta da regeneração) das células do corpo. Porém, diversos fatores podem influenciar, desde a exposição à poluentes, alimentação inadequada e estresse. Por isso muitos dizem que a velhice é só um estado de espírito.
O estresse libera cortisol no organismo, um importante hormônio que, em excesso, pode reduzir a imunidade e enfraquecer sua saúde a nível celular. Dessa forma, se sua mente está ajustada e você reage melhor aos acontecimentos, a tendência é não produzi-lo tanto.
Apesar de fazer sentido, será que o estado de espírito realmente tem influência sobre o corpo? Foi com esse pensamento que a psicóloga Ellen Langer realizou os primeiros testes sobre o tema. Ainda jovem na época e não renomada, ela arriscou um estudo e surpreendeu a todos, sendo hoje uma das professoras mais antigas de Harvard.
Estudo mostra que velhice é só um estado de espírito
Em seu primeiro estudo, realizado em 1981, Langer separou dois grupos de um asilo: o primeiro seria o grupo de controle e o segundo passaria pela experiência completa. A pesquisadora e sua equipe prepararam um mosteiro, adequando a decoração de acordo com a influência cultural do ano de 1959.
Ao entrar, tinha vitrolas vintage tocando Perry, na televisão em preto e branco, um programa de entrevistas com Ed Sullivan e nas prateleiras, livros e revistas da época, bem conservados. Foi nesse ambiente que os idosos passaram cinco dias, orientados a pensar e agir como na época que tinham vinte e poucos anos.
Eram idosos em bom estado de saúde, porém a idade tinha deixado a sua marca. Alguns usavam bengalas, outros andavam com mais dificuldade. Antes de ir para o mosteiro decorado, eles passaram por exames que mediam a destreza, força, flexibilidade, audição, visão, memória e capacidade de aprendizagem.
Antes de sair, foram encorajados a lembrar como era a vida na época em que tinham 20 e poucos e a agir como se tivessem essa idade. Disseram também que as chances deles conseguirem se sentir como em 1959 eram grandes, se mantivessem o esforço para tal. E desde que chegaram no mosteiro, tudo mudou.
Como foi o estudo
Eles subiram sua própria bagagem, mesmo que aos poucos, como fariam na década de 50. Assistiram e discutiram os jogos da época, falavam sobre as notícias vistas, como o lançamento do primeiro satélite americano para o espaço ou falavam sobre os filmes da época. Na decoração, nada de espelhos ou roupas modernas, somente o clássico dos anos 50.
Foram excelentes cinco dias, para ambos os grupos, porém somente o grupo do experimento foi encorajado a agir como se tivesse 20 anos. Ao retornar, fizeram os mesmos testes anteriores e a diferença entre os dois grupos foi gritante. Maior flexibilidade, melhor postura corporal, destreza manual e até a visão e audição melhoraram.
Os resultados foram tão positivos que Langer omitiu alguns resultados excelentes na divulgação dos mesmos, por achar que tiraria a credibilidade da pesquisa. Ela confessa que nem cogitou a possibilidade de contar que os idosos, antes de entrarem no ônibus de volta ao asilo, decidiram bater uma bolinha na rua, enquanto esperavam.
Outros estudos relacionados
Foram realizados pela mesma pesquisadora e muitos outros diversos estudos sobre a ideia de que a velhice é só um estado de espírito, buscando mostrar a relação entre as crenças que se tem em mente, provenientes do meio ou não, e a saúde como um todo. Conheça mais outros dois realizados por Langer e sua equipe.
Salão de beleza
Para ela, a doença está enraizada na mente, relacionando-se à forma como a pessoa se sente e os modelos que ela acredita. Isso levou a mais um estudo, querendo relacionar as crenças a doenças de fato. Dessa vez, a relação entre a calvície masculina e velhice, que levou a pensar sobre a aparência de juventude e doenças.
Em um estudo anterior, ela tinha visto que a maior parte dos homens que tinham um determinado tipo de câncer eram os calvos. Isso chamou sua atenção, relacionando ao estudo anterior e a forma como a pessoa se vê, associada a crenças da sociedade.
Assim, ela fez um novo estudo, dessa vez em um salão de beleza. Foram abordadas 47 mulheres que iriam arrumar os cabelos no salão, pedindo para medir a pressão sanguínea antes e depois do tratamento capilar. Assim que terminavam, respondiam a um questionário, dizendo como estavam se sentindo e tinham a pressão medida novamente.
Aferindo os resultados, a equipe observou que as mulheres que se sentiram mais jovens, depois de cortar ou pintar os cabelos, tiveram uma redução significativa na pressão arterial. Novamente, a mente influenciando no funcionamento do corpo, tendo assim um artigo de sucesso, publicado na revista científica Perspectives on Psychological Science.
Simulador de voo
Em um estudo mais recente, Langer e sua equipe de pesquisadores publicaram os resultados de outro estudo interessante sobre como a mente pode afetar a saúde, dessa vez, especificamente a visão. Eles pegaram dois grupos de pessoas e colocaram em simuladores de voo.
No primeiro, o grupo de controle, eles estariam somente assistindo o voo, sem operar nada, pois afirmaram que os controles do simulador estavam quebrados. No segundo, eles se vestiram como pilotos da força aérea e tiveram que tentar controlar o avião, no simulador, exigindo maior esforço e dedicação.
Ambos os grupos fizeram testes de visão antes do experimento. O primeiro grupo (de controle), não sofreu alterações, o segundo apresentou uma melhora de 40% da capacidade visual. Langer concluiu que “a manipulação mental pode neutralizar limites fisiológicos presumidos”, ajudando a manter a saúde e juventude por mais tempo.
Por todos os seus anos de estudos e pesquisas, essa professora de Harvard teve somente um objetivo, de acordo com suas próprias palavras: “devolver o controle de nossa saúde para nós mesmos”.