Já existe vacina contra a poliomielite há muitos anos, e com bastante eficácia. Só para lembrar, a pólio é uma doença viral em que o vírus se multiplica no organismo e passa para a corrente sanguínea, podendo atingir o sistema nervoso central, causando graves consequências.
Então, apesar das vacinas existentes, em novembro de 2020, a Organização Mundial de Saúde liberou uma autorização para uma nova vacina contra a pólio, e você vai entender o motivo agora.
Primeiro, vamos entender como funcionam as vacinas já existentes para essa doença, pois é importante compreender o contexto para justificar a nova vacina que será distribuída praticamente no mundo inteiro.
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Vacina contra pólio: como funcionam as já existentes?
Existem dois tipos de vacina contra pólio: a injetável, feita com os três tipos de vírus da pólio inativados (“mortos”), e a gotinha, ou vacina oral, que existe em duas fórmulas: a trivalente, com os três poliovírus enfraquecidos, mas ainda capazes de se multiplicar, ou a bivalente, também atenuada, com apenas os vírus tipos 1 e 3.
No Brasil, aplicam-se três doses da vacina inativada no primeiro ano de vida do bebê, aos 2, 4 e 6 meses. Depois, reforços entre 15 e 18 meses e entre 4 e 5 anos de idade. Na rede pública, o reforço é dado com a oral bivalente.
A vantagem e a desvantagem da gotinha já existente
A vacina de gotinha que já existe contra a pólio, tem a vantagem de fazer o mesmo caminho de uma infecção natural, entrando pela boca e replicando-se no intestino. Então, essa vacina confere uma imunidade mais protetora e com maior capacidade de barrar transmissão.
Mas, existe um lado negativo. Como o vírus nessa vacina é atenuado, isto é, ainda está “vivo”, embora fraco demais para causar doença, ele acaba liberado nas fezes, atingindo o esgoto.
Se o vírus da vacina circular por mais de um ano em uma população não vacinada, ele pode sofrer mutações e voltar a ser ser capaz de causar doença, um processo chamado reversão.
Por causa disso é importante monitorar a presença desse tipo de vírus nos esgotos e na população em geral. O vírus que tem mais chance de voltar a ser perigoso é o tipo 2, que por isso foi retirado de algumas formulações vacinais, como a gotinha usada no Brasil.
A importância da nova vacina contra pólio
Para evitar esse risco de o vírus tipo 2 voltar a ser perigoso, os pesquisadores desenvolveram um imunizante oral que contém o vírus 2, mas com algumas modificações genéticas que tornam a reversão muito menos provável.
Para ter certeza da eficácia desse novo imunizante, a fase 1 dos testes clínicos foi desenvolvida na Bélgica, com 15 voluntários que aceitaram morar durante 28 dias em uma “vila” chamada Poliopolis.
Isso para evitar que qualquer traço da nova vacina pudesse contaminar o ambiente externo e manter o esgoto gerado pelos voluntários sob estrita observação. Verificou-se que esta versão da vacina era muito mais segura.
Agora, o novo imunizante da poliomielite está sendo usado em alguns países africanos que haviam encontrado vírus derivado de vacina, como em Uganda. Lá, assim como recentemente na Inglaterra, o vírus foi detectado no esgoto, mas não há casos de pessoas doentes.
De qualquer forma, é sempre melhor prevenir do que remediar. No Brasil, o problema maior é com a falta de conscientização da população sobre a importância de vacinar. Os pais devem levar seus filhos pequenos ao posto de saúde para receberem a imunização – que por enquanto ainda é a vacina que já existe há anos – e evitar os graves sintomas, que nem sempre têm reversão.
Fonte: Natalia Pasternak para O Globo