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Essa é a triste história do parque Albanoel, que está abandonado no Rio

Um sonho de infância começou a ser realizado, mas foi interrompido por um trágico acidente

Crédito: Rafael Barifouse/BBC News Brasil

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O Albanoel é um parque temático natalino que está localizado à beira da rodovia Rio-Santos, em Itaguaí, a 85 km do Rio de Janeiro. Nos anos 2000, chegou a ter milhares de visitantes que adoravam se divertir nos brinquedos e nas piscinas, sem pagar nada.

Porém, o parque fechou há 13 anos, depois que seu proprietário faleceu. Em entrevista à BBC News Brasil, Rodrigo Meirelles, de 39 anos, que é funcionário público e o responsável por cuidar do parque, conta que fica muito triste com a situação atual do local.

“Não gosto quando postam fotos daqui nas redes sociais. Isso aqui não é macabro, isso aqui não é uma cidade fantasma, não está em ruínas”, diz Rodrigo.

Agora, pela falta de manutenção, os letreiros caíram, os bonecos de fibra de vidro pelo jardim estão sujos e quebrados, com pintura descascada e alguns foram pichados. O que era de metal, enferrujou há tempos.

Porém, apesar da situação atual do parque, Rodrigo ainda vê o local com grande carinho e fica chateado quando as pessoas desdenham.

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“Quando as pessoas pedem para tirar fotos, nem dou confiança. Não deixo mais, porque sempre usam para falar mal, nunca é para falar bem. Isso é muito chato. Pô, cara, isso aqui era lindo. Era coisa de outro mundo. Só que, infelizmente, o dono morreu.”

Um sonho transformado em realidade

Hoje em dia muitas pessoas vão às ruínas do Albanoel ter a experiência de estar em um local com visual macabro. Mas poucos sabem a história que está por trás desse lugar.

O parque foi construído pelo deputado estadual Albano Reis, que ficou conhecido como Papai Noel de Quintino. Esse apelido surgiu porque, todos os anos na véspera de Natal, Albano saía para distribuir brinquedos para as crianças e dinheiro para os adultos no bairro Quintino Boicaiúva, zona norte do Rio.

Em uma entrevista à tv Alerj, em 2013, o deputado contou que ele e os irmãos nunca tiveram um Natal quando eram pequenos. Então, esse sonho de proporcionar a magia do Natal para as pessoas sempre esteve no seu coação.

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“Eu tinha 18 anos e havia reservado um dinheiro para quando fosse servir no Exército, porque militar ganhava pouco. Mas não entrei e fiquei com aquele dinheiro sobrando. Decidi concretizar aquele pacto que tinha feito comigo”, contou o político.

Foi então que, no final dos anos 1990, quando já tinha ingressado na política, Albano resolveu começar a construir uma cidade do Papai Noel em um terreno que ele tinha comprado no sul do Rio de Janeiro. Ele queria manter um Natal permanente na sua vida.

A ideia de Albano, conforme explica Rodrigo, era fazer um parque estilo Beto Carrero, bem bonito, de dar orgulho.

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“Tinha crianças que conheciam a Disney e faziam questão de parar na cidade do Papai Noel. Isso dava muito orgulho nele”, diz Jefferson Reis, de 43 anos, um dos quatro filhos de Albano.

A história de Rodrigo no parque

Rodrigo Meirelles ainda cuida do parque com carinho, mas ele não resolveu fazer isso por acaso, depois que o parque fechou. Rodrigo era funcionário do parque desde 2001.

Na época, estava procurando emprego, quando um amigo disse que o político Albano poderia ajudar. Começou como ajudante de pedreiro, construindo boa parte do que era o Albanoel.

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Mais tarde, com o passar do tempo, Rodrigo conquistou a confiança de Albano e passou a ficar responsável por mais de 80 funcionários. “O sonho dele era inaugurar tudo de uma vez, mas ele viu que ia ser difícil e foi fazendo por etapas”, conta Rodrigo, que acompanhou praticamente toda a construção do parque.

A inauguração do parque aconteceu em 2000. “Abria todos os dias, o ano todo. No final de semana, vinham vários ônibus de excursão e famílias. O Albano ficava aqui na rede e se divertia vendo as crianças brincando”, conta Rodrigo.

Albano era tão apaixonado pelo seu parque, que construiu uma casa no mesmo terreno, e lá passava a maior parte do tempo, quando não estava no Rio de Janeiro.

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O fim de um sonho

Além de transformar o Albanoel em um grande parque temático natalino, Albano também estava construindo a Cidade Country e uma réplica do Cristo Redentor, que seria maior do que a original, no corcovado. Porém, nada disso de concretizou, pois aos 60 anos de idade, Albano faleceu.

Tudo aconteceu na noite de 18 de dezembro, depois do jornal na televisão. Albano decidiu sair e jantar na pizzaria que ficava ao lado. Ele foi caminhando pela beira da estrada, quando um motorista invadiu o acostamento, atropelou Albano e fugiu sem prestar socorro.

Depois das investigações, a polícia conseguiu chegar ao culpado, que confessou tudo ser o responsável pelo acidente.

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Durante os dois anos seguintes, o Albanoel continuou em funcionamento. Mas, por causa de problemas na justiça, a família decidiu fechar o parque em 2006.

“O Ministério Público alegou que havia ocorrido desmatamento, e a Justiça aplicou uma multa de R$ 10 mil para cada dia em que o parque funcionasse. Como a entrada era gratuita, a gente não teve mais como manter aberto”, diz Jefferson.

Rodrigo continuou a cuidar do parque

Embora estivesse fechado, o parque continuou sendo cuidado por Rodrigo, que passou tantos anos ali vendo a alegria das famílias e de Albano com esse grande sonho em construção. Ele se apegou ao local e continuou cuidando da forma que conseguia.

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Mas como não era possível fazer manutenção, ele apenas ia removendo os brinquedos que começavam a se deteriorar.

“Já estavam feios, enferrujados, e fiquei com medo, porque as crianças chegavam aqui e iam logo trepando neles. Alguma delas podiam se machucar, e isso ia dar problema”, diz ele.

Muitos brinquedos ficaram guardados no galpão dos fundos no parque, onde eram construídos.

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Até animais exóticos viviam no parque, em viveiros. Muitos morreram, mas hoje ainda vive um pavão que divide o espaço com algumas galinhas.

O desejo de dar a volta por cima

Para Rodrigo e os filhos de Albano, é muito triste ver o que tantas pessoas escrevem sobre esse local que há alguns anos era tão querido e especial por todos.

“Acho uma falta de respeito. Depois que fechou, as coisas ficaram paradas mesmo. Seria igual se alguém deixasse um carro parado. O pneu iria arriar, o motor iria colar. Se estivesse funcionando, não estaria assim. Mas tenho esperança de que isso aqui volte a ser o que era”, afirma Rodrigo.

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A ideia é que o parque volte a ser o que era, ainda melhor e maior. Esse é o plano de Jefferson, filho de Albano: “Em vez das pessoas nos criticarem e atacarem, deveriam nos ajudar a procurar uma solução. Mas vamos reabrir o parque – e com recursos próprios. Vamos dar a volta por cima em pouco tempo.”

Crédito das imagens: Rafael Barifouse/BBC News Brasil/Arquivo pessoal

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