Muitas pessoas passam a vida com a deformidade do pé torto congênito, que é quando o bebê já nasce com os pés virados e aprende a caminhar assim, mas cresce sem poder usar sapatos, no máximo chinelos para não machucar os pés.
Até pouco tempo, um tratamento criado na década de 1960 era recomendado apenas na primeira infância. Então, os adultos com pé torto estavam fadados a nunca poderem caminhar direito, praticar várias atividades físicas e nem calçar os sapatos que gostariam.
Mas um médico brasileiro mudou essa realidade com sucesso. O ortopedista Davi Haje, que trabalha no Hospital de Base de Brasília, começou a utilizar o Método Ponseti em adultos, que consiste no uso de gesso nas pernas e pés, trocado toda semana, por um período médio de 1 ano, para remodelar os pés.
Esse método foi publicado em julho de 2020 no Journal Of Othopedic Case Reports, depois que o Dr. Davi Haje conseguiu 4 casos de sucesso e agora deseja levar a cura do pé torto a muito mais adultos.
“Eu fazia esse tratamento em crianças e dava certo, comecei a fazer em crianças com idades mais avançadas e adolescentes, com sucesso. Então, pensei, por que não tentar em um adulto? Tentei e deu certo. Comparando os resultados com pacientes operados, percebi que essa técnica é muito melhor. É sem cicatriz, recuperação mais rápida e corrige uma deformidade intensa. Para mim, é uma satisfação ajudar essas pessoas”, disse Davi Haje ao IGESDF.
Eugênio, 27 anos
Um dos pacientes que foi beneficiado com o Método Ponseti é Eugênio Marques de Almeida, de 27 anos. Ele é o mais velho entre os 4 pacientes adultos tratados com esse Método. Eugênio, que é do Piauí, ficou sabendo do tratamento por meio do seu cunhado, que mora no Recanto das Emas/DF, e foi para a capital conhecer o médico que poderia ajudá-lo.
Então, depois de 7 meses de tratamento, no dia 21 de agosto de 2020 Eugênio tirou o gesso pela última vez e pôde ver seus pés na posição normal. Foi a primeira vez que ele calçou um par de tênis, que ganhou de presente do médico.
“Ter esse problema dificulta muito, eu não posso ajudar meu pai. Meu sonho é ajudar meu pai e minha mãe. Sinto muita dor na coluna. Agora, eu vou poder ajudar eles. Eu não pude fazer isso na infância. Quero trabalhar”, disse Eugênio.
Quando era criança, mesmo tendo os pés tortos, Eugênio tentou fazer parte de um time de futebol como goleiro, mas não deu certo. “Meus pés começaram a machucar muito. Tive que parar. Agora, com fé em Deus, eu vou me divertir um pouco. Estou muito feliz. Eu imaginava que não iria conseguir corrigir os meus pés, mas agora eu só tenho a agradecer a Deus e à equipe do Hospital de Base”, finalizou.
O cunhado de Eugênio o hospedou em casa para que ele fizesse o tratamento. “Tenho um filho que já faz tratamento aqui. Marquei uma consulta com o doutor Davi e ele me perguntou se tinha alguém com deficiência na minha família. Apresentei a foto do Eugênio e ele disse que o caso tinha solução. Agora, já tem 10 pessoas que são do Piauí e querem fazer esse tratamento aqui”, contou.
Geovana, 22 anos
Outra paciente que ficou muito feliz com resultado do tratamento é Geovana Melo, de 22 anos, que foi tratada por 6 meses. No caso dela, a deformidade não era congênita. Geovana ficou com apenas um dos pés torto em decorrência de uma doença chamada mielomeningocele, uma malformação que ocorre quando a medula espinhal de um bebê no útero não acontece de forma adequada.
“Com o passar do tempo eu fui aprendendo a caminhar e o meu pé começou a entortar. Então, sempre tive bastante dificuldade de andar e comprar um sapato, que machucava muito. Era difícil. Tentei fazer a cirurgia, mas sempre quis jogar futebol, eu nunca consegui, mas quem sabe daqui para frente. Agora, também, vou comprar sandálias. Sempre quis usar”, disse.
Josué, 25 anos
Josué Ferreira Prado, de 25 anos, veio do Ceará quando ficou sabendo do tratamento em uma reportagem vinculada nas redes sociais.
“Moro em Tianguá, Ceará. Já nasci com deficiência e comecei a caminhar com idade avançada, perto dos três anos. Tive dificuldade na escola porque tinha muito preconceito. Quando fiquei sabendo, eu vim atrás do tratamento, apesar de não imaginar mais que nessa idade seria possível corrigir esse problema”, contou.
A vida de Josué sempre foi mais difícil por causa dos pés tortos. Ele trabalha como fiscal de loja, e as feridas nos pés por causa da deformidade dificultam a sua rotina. “Ainda estou em recuperação, mas já sinto que procedimento mudou muito a minha vida. É muito confortável andar normalmente”.
Daiana, 26 anos
O primeiro caso de sucesso do Dr. Davi foi na paciente Daiana da Silva Nascimento, de 26 anos, da Bahia. Ela tinha pé torto congênito, fez o tratamento e removeu o gesso pela última vez em 24 de maio de 2019, quando o tratamento começou a ser divulgado no mundo como uma opção de cura para essa malformação. Agora, Daiana vive normalmente, com muito mais qualidade de vida.
O Hospital ainda está se adaptando e estruturando o fluxo de pacientes para esse novo tratamento, que requer encaminhamento para o especialista. Com o encaminhamento em mãos os pacientes podem procurar a central de marcação do Hospital de Base para agendar a consulta com o ortopedista.
Crédito das imagens: Davidyson Damasceno/IGESDF
Com informações de Instituto de Gestão Estratégia de Saúde do DF (IGESDF)