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Imagem: David Machado/HC-FMUSP

1º transplante pareado de rins do Brasil: 2 casais e 4 cirurgias simultâneas

Os casais se conheceram um dia antes da cirurgia que fariam juntos

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Já pensou se a pessoa que você ama precisasse de um transplante de rim? Sua vontade seria de ser um doador compatível para doar um de seus rins a ela, certo? Pena que não basta querer.

Nesses casos, existe a possibilidade de fazer o chamado transplante pareado (em pares). Quem explica o que é isso é David Machado, médico nefrologista do Hospital das Clínicas da USP e coordenador responsável pelo projeto de pesquisa do transplante pareado:

“A doação renal pareada (DRP) oferece a um par de doador/receptor incompatível a possibilidade de trocar o doador com outro par na mesma situação e realizar os transplantes, beneficiando ambos os receptores. A DRP se mostra como uma solução para resolver as incompatibilidades e aumentar o número de transplantes, diminuindo o tempo de espera e a fila com doador falecido.”

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Aconteceu o primeiro transplante pareado do Brasil

Imagem: Arte UOL

Ivana queria doar seu rim para o marido Allan, mas era incompatível. Alessandra queria doar um rim para seu marido Enzo, e também era incompatível.

Esses dois casais não se conheciam, mas tinham um problema em comum: a necessidade de um transplante de rim para os maridos, e de um doador compatível, já que as esposas não eram.

Então, os casais foram selecionados para participar de um projeto de pesquisa inédito no Brasil. Eles descobriram, assim, que Ivana era compatível com Enzo e Alessandra era compatível com Allan.

Os quatro fizeram o primeiro transplante pareado do país, no HC-FMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo).

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Na cirurgia, que ocorreu de forma simultânea, no dia 10 de março de 2020, as esposas dos pacientes renais realizaram uma espécie de troca.

Ivana Nascimento, 43, doou o rim dela para Enzo Perondini Filho, 58, e a esposa de Enzo, Alessandra Bueno Perondini, 47, doou o rim dela para Allan Nascimento, 40, marido de Ivana.

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Como surgiu a oportunidade para os casais?

Em 2018, Allan recebeu a ligação da enfermeira Bruna Moura, coordenadora do ambulatório de transplante renal do HC.

“Ela me ligou para perguntar se minha esposa ainda tinha interesse em doar o rim, no impulso acabei dizendo que sim sem falar com ela. A enfermeira me explicou que um médico do HC, David Machado, estava desenvolvendo um projeto de pesquisa inédito que iria selecionar duas duplas para fazer o chamado transplante pareado, que funcionaria assim: minha esposa doaria o rim dela para um paciente renal e um parente desse paciente doaria o rim dele para mim. Desliguei com a enfermeira e liguei para Ivana para contar o que tinha acontecido e para perguntar: você quer mesmo doar?”

A resposta de Ivana, compradora de e-commerce de calçados e acessórios, foi sim: “Sempre quis, nunca titubeei. Assim que Allan me falou, acreditei na proposta do projeto, vi como uma superoportunidade, sabia que tinha chegado a hora dele. Como mulher, companheira e amiga, via o sofrimento dele e queria poder ajudar a reverter a situação. Não me incomodou saber que meu rim iria para outra pessoa, o importante é que meu marido seria beneficiado com a minha ação.”

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Após três anos fazendo diálise, Enzo também ficou sabendo do projeto pelo nefrologista que atendia na clínica onde ele fazia o tratamento e que era da equipe de David Machado.

“Ele me explicou o procedimento por cima, vi com bons olhos, mas tinha resistência em aceitar a ideia da minha esposa ser doadora, conversei com ela e aos poucos fui mudando meu pensamento”, conta o ex-atleta.

Alessandra diz que não tinha medo de ser doadora e que já sabia que a vida dela com um rim continuaria normal.

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“Quando meu marido me contou do projeto, falei que queria participar. Por mais que dentro do possível o Enzo lidasse bem com o fato de fazer hemodiálise, era um tratamento cansativo e que o limitava. Ao saber que eu poderia melhorar a qualidade de vida dele de alguma forma, não pensei duas vezes”, diz a gerente de marketing.

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Não são todos os casais que podem fazer

De acordo com o nefrologista Machado, não é qualquer dupla que está habilitada para fazer o transplante pareado, existem alguns critérios que precisam ser atendidos.

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“Pacientes que têm doadores vivos compatíveis do ponto de vista do sistema ABO (que classifica os grupos sanguíneos em tipos A, B, AB e O) e a compatibilidade tecidual podem fazer o transplante com seus doadores. O ineditismo desse projeto de cruzar doador/receptor com incompatibilidade sanguínea ABO ou imunológica tecidual, buscando a compatibilidade com outras duplas, resulta na conclusão de dois doadores e dois receptores renais compatíveis”, explica o médico.

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Esse tipo de transplante ainda não é regulamentado no Brasil

A doação pareada não é regulamentada no Brasil, mas um projeto de lei em andamento pretende mudar isso.

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O projeto de lei 95 de 2020 objetiva alterar a lei nº 9.434, de 4 de fevereiro de 1997, que dispõe sobre a remoção de órgãos, tecidos e partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento, para permitir a doação recíproca de órgãos e tecidos (transplante cruzado).

Por orientação da equipe do HC, os dois casais, que não se conheciam pessoalmente, tiveram que entrar com uma ação conjunta na Justiça para conseguir uma liminar autorizando o transplante pareado, pois, enquanto o projeto de lei não é aprovado, essa autorização judicial é necessária.

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Um transplante inédito e de sucesso

Com duração de cerca de 3 horas e a participação de 25 profissionais de saúde, no dia 10 de março os transplantes foram realizados em quatro salas cirúrgicas simultaneamente.

Enquanto uma equipe retirava o rim de Ivana, na sala ao lado Enzo já estava pronto para receber o órgão. Ao mesmo tempo, Alessandra passava pelo mesmo procedimento para doar seu rim para Allan.

Segundo o coordenador do projeto, o primeiro transplante pareado do Brasil foi bem-sucedido. “Os pacientes apresentaram diurese imediata, houve a recuperação da função renal, eles não tiveram qualquer rejeição aos órgãos e ambos receberam alta em menos de uma semana”, explicou o nefrologista.

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Fonte: UOL Viva Bem

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