O que dizer da solidariedade feminina? Será que ela é uma característica nata da mulher ou foi cultivada com o tempo? O médico Drauzio Varella compartilha seus pensamentos sobre o tema, de forma descontraída, mas que faz pensar bastante.
A solidariedade feminina é vista como uma capacidade acima da média, da mulher se doar. Em geral, é ela quem está à disposição para aquele desabafo durante o café ou, até mesmo, para trocar o curativo ou fazer a comida especial. Mesmo com seus defeitos e limitações – de tempo e paciência – ela consegue se virar em várias e cuidar daquele familiar senil, dos cachorros da vizinhança ou da criança com febre.
Passar noites em claro, mesmo com uma tonelada de trabalho no dia seguinte, não é problema, pois ela encontra forças onde parece haver somente desespero. Sim, ela é única e centenas, representa o afago e acolhimento. Mas você já se perguntou o porquê delas serem assim e os homens, nem tanto? Veja o que o dr. Drauzio Varella fala sobre isso.
Solidariedade feminina na ótica de um médico
Depois de passar décadas em hospitais e clínicas, dr. Drauzio tem mais do que expertise e propriedade para falar sobre a relação entre pacientes e cuidadores. Em seu site, ele faz um relato interessante sobre isso e diz que é muito raro ver um homem como acompanhante. Se não for a mãe, filha, prima ou até mesmo a vizinha, o paciente corre o risco até de ficar sozinho (e acontece muito).
O papel do homem
Durante décadas, o médico conseguiu identificar padrões de comportamento masculino. Com humor e leveza, ele diz que tem três tipos de atitudes típicas dos homens que frequentavam os hospitais, listadas a seguir:
- Sensível: não é que o familiar será abandonado, claro que não. O homem sensível irá visitar todos os dias na hora do almoço e depois voltar ao trabalho. Passará, com o tempo, a ir ao final do dia, cansado, com fome e com a família esperando em casa, indo embora em menos de 30 minutos;
- Ultrassensível: é tão comovido com a situação, que nem consegue ir visitar, tamanha é a dor no seu coração ao ver a situação em que o familiar se encontra. Isso também se aplica para os parentes idosos, que já não estão mais tão lúcidos como antes, e deixam qualquer homem sentido;
- Durão e coaching: passa rapidinho para ver o parente, tentando animar e fazer com que dê a volta por cima. Sua falta de motivação é irritante para o durão, pois a vida é para ser vivida e se está naquela situação, é porque é fraco.
Em todos os três casos, são pessoas muito ocupadas, a ponto de não poderem passar um tempo com o familiar doente. De acordo com as palavras do médico, eles fazem isso “como se as mulheres não passassem de um bando de desocupadas, à disposição dos doentes”. Muito cômodo, não é mesmo?
O papel da mulher
Já a mulher pode ter filhos, trabalhar fora, em casa e ainda fazer trabalho voluntário que dá um jeitinho de passar pelo menos as noites com o paciente. De acordo com Drauzio, uma das justificativas mais comuns é que os homens eram desajeitados para a função. Interessante, concorda?
Ele diz que “apesar de me render à grandeza da alma feminina, reconheço a parcela de culpa que cabe às mulheres, na gênese do egocentrismo masculino nessas situações”. Os meninos são os protegidos e servidos, enquanto as meninas, desde cedo, já ganham bonecas para cuidar. Será que se está ensinando as crianças de forma correta?
É fato que as mulheres são muito prestativas, apoiando-se mutuamente, mas os homens também deveriam ser. Se sacrificar para cuidar de alguém doente pode ser desgastante e não deve ser um trabalho somente feminino. Mais do que justo e necessário, que seja uma tarefa compartilhada amorosamente entre os membros da família.