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Recusada por preconceito em vaga de emprego em banco, Antônia hoje é juíza

“Não se compare com outros, comparação só existe quando duas pessoas saem do mesmo ponto de partida”, explica a juíza

Crédito: Reprodução

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Há pouco mais de 40 anos, um banco privado chegou na cidade de Serra Azul de Minas, cerca de 300 km da capital Belo Horizonte e onde morava a jovem Antônia Marina Aparecida de Paula Faleiros, na época com 17 anos.

Menina da roça e recém-formada no ensino médio, Antônia decidiu concorrer a uma vaga de emprego no banco. Ela se inscreveu, fez a prova e estava certa de que tinha se saído bem, pois era muito estudiosa. Mas, aquele foi o momento em que Antônia conheceu o preconceito de perto.

“Foi traumático, nem em último lugar fiquei. Muito tempo depois, soube que a prova sequer foi corrigida. Eu não pertencia àquele mundo privilegiado nem da aparência e nem da nascença”, contou ao site Uol.

O trauma não abalou sua determinação

Naquela experiência Antônia tinha tudo para desistir, pois percebeu que não fazia diferença ser estudiosa se ela tinha “cara de pobre”. Só que, apesar do trauma, não foi isso que ela pensou. Antônia resolveu ir para a capital em busca de um bom trabalho.

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“De onde eu venho, levo uma lição de disciplina, coragem, determinação, de não desistir. É ilusão achar que todos estão no mesmo patamar de concorrência aos postos de poder. Meritocracia é uma ilusão em diferentes níveis do discurso.”

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Acontece que, na capital, a vida não se mostrou mais fácil, pelo contrário. Ela pensou que chegaria lá e receberia a ajuda das pessoas que prometeram abrigá-la, mas ao bater na porta dos conhecidos, foi recusada.

Depois de conseguir ser acolhida por parentes, Antônia conseguiu um trabalho como empregada doméstica, mas o salário não dava para se manter.

“Num determinado dia, ao terminar meu serviço de faxina, fui convidada a me retirar da casa onde estava. Fiquei sem ter onde dormir e fui para um ponto de ônibus aguardar o horário de voltar para o trabalho e assim fui ficando.”

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Durante 5 anos como empregada doméstica Antônia sofreu com patroas racistas e machistas, que não queriam estar perto dela e não se importavam com o fato de ela não ter onde dormir. Só não queriam abrigá-la em casa porque “negrinha dentro de casa é tentação pra marido e filho.”

Uma virada transformadora

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Depois disso, Antônia passou cerca de seis ou sete meses na rua até que uma desconhecida a recebeu em sua casa. Quando ela estava com 22 anos, concorreu a um concurso público para ser oficial de justiça, pois só exigiam o ensino médio. Agora sim, ela passou com honra e sua jornada na vida jurídica começou. Só que, claro, nem por isso as coisas ficaram fáceis.

“Fui até um cursinho e lá descobri que custava muito além do que eu poderia pagar com meu salário de doméstica. Então, passei a recolher as cópias manchadas ou inutilizadas que outros alunos jogavam no lixo.”

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Mesmo tendo que estudar com as apostilas do lixo, Antônia agora tinha um emprego que lhe pagava o bastante para morar em uma pensão e, mais tarde, cursar a faculdade de Direito.

Crédito: Reprodução

Depois de muitos anos de estudo e muitos concursos públicos, ela conseguiu se tornar juíza criminal, cargo que ocupa há 18 anos, com muito orgulho. Ela nunca esqueceu das suas raízes e sempre procura exercer o seu trabalho olhando o ser humano além do delito.

Para as pessoas que vivem dificuldades e preconceito na vida, essa mulher perseverante e vencedora deixa uma importante mensagem:

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“Com as ferramentas que tiver em mãos, você conseguirá fazer a sua mudança. Não se compare com outros, comparação só existe quando duas pessoas saem do mesmo ponto de partida. Como isso não acontece, dentro das suas possibilidades, seja você a senhora do seu destino.”

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