Nascido e criado em uma comunidade quilombola, filho de pais analfabetos e com mais 11 irmãos para dividir o teto, João Santos Costa conseguiu o que parecia impossível. Emocionado, ele decidiu contar sua história, faltando apenas 100 dias para a sua formatura em medicina. Em seus planos, além de reencontrar a família, vai também se estabelecer em sua comunidade, cuidando de quem mais precisa.
João, oriundo do Povoado Sítio Alto em Simão Dias (Sergipe), tem apenas 24 anos e uma história inspiradora. Desde cedo, ele via seus pais lutando diariamente na lavoura para poderem dar o mínimo (e às vezes nem isso) para a família. Inclusive, houve dias em que os pais pulavam alguma refeição para dar para os filhos.
O médico hoje recorda, em entrevista, que “havia momentos em que eu não sabia o que comeria no decorrer do dia, nem o que vestiria para ir estudar, nem se teria sapatos para calçar, mas eu nem pensava em faltar às aulas e muito menos em usar tais obstáculos como empecilhos para não buscar conhecimento e mudar de vida“.
O início
E foi em meio a esse cenário, estudando em escola pública e trabalhando na roça, que João se destacou. Era o melhor aluno, mesmo com condições nada favoráveis. Além disso, se formou com honra no ensino médio, conseguindo seu primeiro trabalho na cidade no último ano. Era um estágio remunerado na Promotoria de Justiça de Simão Dias, fruto do seu esforço na escola.
Aliás, foi na escola estadual Dr. Milton Dortas, que ele conheceu mestres fundamentais para sua vida, que sempre o incentivaram. Também o ajudaram, não apenas com conhecimento e incentivo, mas até mesmo itens para que pudesse continuar. Seus pais, alguns funcionários e professores são sua maior inspiração:
Agradeço de coração a cada um dos professores que conheci, que além de compartilharem seus conhecimentos científicos e materiais didáticos, compartilharam lições de cidadania, comportamento e empatia, e não menos importante, me prepararam para vida!
Na faculdade
João sabia que somente a educação poderia ajudar sua família a sair da situação em que vivia. Por mais que seja um trabalho digno, a roça pode não trazer os resultados necessários para a sobrevivência. Foi então que ele passou em uma universidade federal e, como sempre, com louvor. Foi o 3º melhor candidato do vestibular de medicina. E então começou a cursar, apesar das dificuldades.
Para conseguir se manter sem o apoio dos pais, que já estavam sobrecarregados com seus 11 irmãos, ele contou com o apoio de programas, como o de residência universitária disponibilizado pela UFS e na bolsa permanência disponibilizada pelo MEC. Durante os 6 anos de curso, ele aprendeu muito, não somente na medicina, mas também para a vida, deixando uma mensagem importantíssima:
No pouco que vivi, aprendi que, quando as dificuldades baterem na sua porta, deixe-as entrar! Nada melhor que os desafios para instigar a evolução humana. (…) Mas a vida apenas está começando, o aprendizado sempre continua e nada é como antes. (…) Hoje tenho orgulho de dizer que graças aos meus esforços e ao apoio de pessoas maravilhosas o negro saiu da ‘senzala’, o pobre saiu da roça e o aluno de escola pública está se formando em medicina em uma Universidade Federal.