Luan Vitor da Silva, de 20 anos, foi para a prisão em flagrante pelo roubo de um celular, na madrugada do dia 4 de junho, em Santa Luzia, Belo Horizonte.
Ele não tinha antecedentes criminais e foi solto no dia seguinte, após audiência de custódia. Mas, quando Luan ouviu da juíza que ele seria solto ainda naquele dia, o jovem surpreendeu a todos.
Ao invés de querer sair dali o mais rápido possível, Luan perguntou à juíza se poderia ficar na prisão até de noite, pelo menos para poder jantar, pois na rua ele iria passar fome.
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Um pedido que comoveu a todos
O pedido de Luan foi tão espontâneo que comoveu os presentes. Segundo o promotor Luciano Sotero Santiago, do Ministério Público de Minas Gerais, a fala do rapaz foi “emblemática”.
“Ele pediu de forma muito espontânea, muito sincera, para não ser solto porque queria jantar. Ele falou: ‘Excelência, deixa eu ficar preso até o jantar? Estou com fome, tem dias que eu não como'”.
A juíza Elâine de Campos Freitas, da Comarca de Santa Luzia, tranquilizou o réu, afirmando que o alvará de soltura demoraria algumas horas para sair e que ele poderia jantar.
O roubo motivado pela fome
De acordo com Santiago, a prática da Justiça brasileira em casos como o de Luan, que responde agora em liberdade ao artigo 157 (roubo), é manter a prisão.
“No caso do Luan, ele utilizou uma pequena faca para subtrair um celular. Em regra, ele ficaria preso, mas eu cumpri o que está na Constituição. Não se pode cumprir pena antecipada antes de o processo ser julgado. E há evidências de que o roubo foi praticado em razão de fome”, afirmou o promotor.
A juíza também solicitou que o rapaz, que aparentou problemas psiquiátricos, fosse encaminhado para a Secretaria de Saúde do município para receber acompanhamento médico.
O jovem relatou ter problemas para dormir, aparentou “não ter muito discernimento”, um “olhar distante e fala oscilante”, segundo o promotor. “A gente não sabe se ele está em sofrimento psíquico e qual seria o tratamento adequado”, afirmou.
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Falta de perspectiva leva jovem a preferir estar na prisão
Segundo Santiago, o rapaz é pardo, de “constituição corporal frágil” e não deixou claro se vive em situação de rua.
Ele deu um endereço onde mora o pai, mas afirmou que dorme em outro endereço, onde consegue os bicos como servente de pedreiro.
“É muito triste que a falta de perspectiva coloque jovens como o Luan diante de um dilema como esse. Desejar estar preso, ainda que em condições precárias, com celas mofadas e superlotadas, para poder ter cama, comida e teto”, afirma o promotor.
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Fonte: UOL Notícias