Neste período de quarenta, muitas empresas adotaram o regime do teletrabalho (home office). Com isso, quem vive em família precisou determinar um novo planejamento da rotina para conseguir conciliar os cuidados domésticos e da família com as atividades do trabalho.
Mas, não está sendo fácil para muitos. Em Portugal, muitas pessoas estão apresentando sintomas de exaustão física e mental, como perda de apetite, problemas para dormir, obsessão por limpeza e depressão. Veja alguns desabafos de pais portugueses para Agência de Notícias Lusa sobre como está sendo este período em suas vidas.
Relatos de pais tentando lidar com a quarentena trabalhando em casa
João, de 43 anos, com filhos de 11 e 8 anos, é também um marido, empresário, investigador e estudante universitário na cidade do Porto. Ele relata que este período de quarentena o está obrigando a assumir vários papéis ao mesmo tempo e, assim, esconder e controlar suas emoções para tentar manter o convívio com todos sob controle.
Em relato concedido à Agência de Notícias Lusa, ele confirma: “a batalha é dura, porque as frentes de batalha são várias. A forma como lido com as várias frentes exige uma mudança constante de abordagem. Estar perante uma situação impensável, em que me é exigido o cuidar de mim e dos outros, lutar pela vida evitando um vírus invisível, mais as pressões profissionais, o acompanhamento aos filhos nas tarefas escolares e também no seu equilíbrio emocional, apoiar toda a família, lidar e gerir a informação que entra ao minuto pelas mídias, é devastador a nível emocional, mental e físico”.
Situação semelhante vive a médica veterinária Margarida, também da cidade do Porto, que tem filhos de 14, 10 e 2 anos de idade. Sua maior preocupação se tornou manter todos a salvo dentro de casa, e foi assim que pegou-se obcecada por desinfetar tudo o tempo todo.
“Só hoje consegui passar um creme na cara. Não consigo comer, vivo obcecada com a higiene e desinfecção de tudo e todos. Tivemos contatos no trabalho com pessoas que poderão estar infectadas. Aguardamos com ansiedade os 15 dias de espera até regressar ao trabalho. Qualquer tosse ou espirro é recebido com sobressalto”.
No caso de Maria, de 34 anos, que é solteira e tem uma filha de 15, a situação emocional é bastante delicada, porque ela trabalha como agente da Polícia Municipal do Porto, e agora está fazendo turnos diários de 12 horas e sem ajuda familiar para cuidar da filha, já que o pai está na Coreia do Sul.
“O perigo é exponencial na minha profissão e o meu receio é trazer o vírus para casa e passar para a minha filha”.
Clotilde vive no Porto com o marido e os dois filhos, um de 5 anos e outro de 14 meses. Eles estão trabalhando em casa e revezando as tarefas para poderem ficar com as crianças, mas para que consigam fazer tudo isso é preciso que virem noites acordados trabalhando.
“Já chorei algumas vezes. De preocupação com o futuro, com a minha família daqui e a que vive no Brasil, com todo o caos mundial. Chorei por sentir que não consigo fazer o suficiente, de cansaço”.
Olga é uma profissional de recursos humanos, mãe de crianças com 5 e 2 anos de idade, e está também trabalhando em casa com o marido. Depois de apenas uma semana neste novo regime, já sente o peso de tantas preocupações:
“Sinto-me a pior mãe do mundo, por não conseguir guardar as emoções para mim e explodir e chorar na frente das crianças. Pouco tempo tenho para mim. Não consigo fazer exercício físico apesar de a academia enviar constantemente emails com vídeos de aulas para fazer em casa, eu não consigo sequer ver um programa que goste ou, pior, não consigo estar cinco minutos sozinha”.
Júlia, de 43 anos, é divorciada, tem uma filha adolescente de 12 anos e pais idosos para cuidar. No seu caso, para evitar colocar a filha e os pais em risco, a adolescente foi para a casa do pai. Assim, todos os dias, Júlia consegue ir mais tranquila para a casa dos pais ajudá-los no que precisarem, tarefa esta que ela reveza com a irmã.
Ela diz que não chora, mas que teme o futuro e de como esta separação temporária pode afetar o emocional da filha, que não entende por completo, como os adultos, o que está acontecendo.
Ana Rita é mãe de um menino de 5 anos, trabalha como escultora e como empresária no ramo turístico oferecendo alojamento a turistas em 2 apartamentos que possui no Porto. Porém, neste momento, está sem clientes e sem dinheiro, já que todas as reservas foram canceladas e trabalhava por conta própria.
“Só quando ele adormece é que me permito sentir esta angústia, este receio do imprevisível, o medo que esta ameaça invisível possa derrubar algum elemento da nossa família tão unida. Temos vários familiares e amigos em situação de risco e estou com dificuldade em lidar com toda esta incerteza com positivismo. Acordo várias vezes durante a noite, com um aperto no peito, com receio do que o dia seguinte possa trazer.”
Fonte: Jornal de Notícias
O que fazer para manter o controle neste momento de quarentena?
De fato, esta situação de confinamento forçado é bastante pesada para a saúde emocional, mental e física das pessoas, em especial de quem tem dependentes e precisa se responsabilizar por diversas tarefas ao mesmo tempo. Veja quais são as recomendações dos médicos: