Milhares de mulheres indianas estão fazendo procedimentos cirúrgicos desnecessários para poder trabalhar. O preconceito com a menstruação é imensa na Índia e elas removem o útero em processos desumanos.
Para a cultura local, a mulher menstruada está suja, doente, incapacitada e até amaldiçoada. É uma triste realidade, tão diferente das culturas mais modernas. Hoje, em países como o Brasil, a mãe prepara a menina para o momento especial, conversa sobre o assunto e comemora a data. Ficar mocinha é um rito de passagem, que pode ser especial ou terrivelmente assustador.
Cercado de ideias medievais, o tema reflete a forma com que a mulher é vista na Índia. Preconceito, ignorância e falta de respeito ao corpo, mente e alma feminina. Veja alguns tabus que envolvem a menstruação por lá:
- Durante o período, a mulher não pode entrar na cozinha;
- Orar ou ir ao Templo está proibido;
- Ela deve se sentar sozinha;
- Não devem tomar banho para não contaminar o rio;
- Mulheres ficam anêmicas durante o período;
- Quando comprados, os absorventes são entregues embrulhados em papel pardo ou jornal;
- Homens não compram absorvente;
- Não se discute a menstruação, nem entre as mulheres;
- Não se deve lavar os trapos usados como absorvente e nem deixá-los à mostra, reutilizando meio úmidos e nada cheirosos;
- Uma em cada cinco meninas deixam a escola, depois de menstruar, por não ter como trocar o absorvente;
E esses tabus se perpetuam, fazendo com que as mulheres, cada vez mais, busquem formas de se adequar à realidade. Uma dessas ações é a eliminação do útero para poder trabalhar, dada a falta de estrutura e compreensão nessa fase. Saiba mais nesse vídeo:
Elas removem o útero em busca de uma chance
Nem se está falando de igualdade de oportunidades, mas, sim, de uma chance de trabalhar e sobreviver. Muitas mulheres indianas trabalham nas lavouras e fábricas de roupas, sem a menor estrutura. Banheiros coletivos e abertos não combinam com a ideia que se faz sobre o sangue da menstruação na Índia.
Dessa forma, como pode a mulher indiana conseguir trabalho, se é vista dessa forma? Uma solução cruel é a eliminação do útero. Isso acontece por escolha própria ou pela indicação errônea de médicos inescrupulosos. E um lugar específico está batendo os recordes de casos de histerectomia.
Em Maharashtra, na parte ocidental do país, milhares de mulheres estão retirando o útero para poderem trabalhar na lavoura de cana de açúcar. Há muito preconceito e é difícil conseguir uma vaga, pois dizem que a mulher perde um ou dois dias de trabalho quando menstruam. Além de menores chances de serem contratadas, elas ainda têm que pagar uma multa, caso faltem.
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Além disso, as pessoas que trabalham acabam montando acampamento ao redor do canavial, sem estrutura para higiene adequada. Dado o problema com a limpeza dos absorventes, as mulheres acabam desenvolvendo infecções. Quando vão se tratar, os médicos indicam a eliminação do útero, para acabar com o problema.
A maior parte das mulheres é casada e já tem filhos, tendo entre 20 e 30 anos. Para você ter uma ideia da dimensão, em apenas um distrito de Maharashtra, foram 4.605 histerectomias nos últimos três anos. E muitos casos acabam com problemas diversos, como dores, dormência e até fraqueza muscular, dada a negligência médica.
É uma questão que vai além da saúde pública ou de uma determinada cultura. É falta de respeito com a mulher e seus ciclos. É falta de humanidade, do direito de escolher. O que resta é torcer para que iniciativas como as dessa ONG possam fazer efeito. Mudar o olhar sobre o papel da mulher é essencial para isso. Veja mais um pouco sobre o que é ser uma mulher na Índia: