Milhares de mulheres e homens da Índia se uniram em uma muralha humana para permitir a passagem de duas mulheres indianas para o interior do último templo que proibia sua presença na país. Conheça a história.
Mulheres indianas lutam por igualdade
Em Kerala, estado localizada ao sul da Índia, existe um templo chamado Sabarimala, sendo esse dedicado ao Deus Ayappa, tido como casto, pela religião hindu.
O local recebe mais de 50 milhões de homens ao ano, depois de jejuar por mais de 40 dias, sendo proibida a presença de mulheres em idade fértil – entre 10 e 50 anos – para não tentar o Deus casto.
Essa proibição já vinha sendo questionada há anos quando, em setembro de 2018, uma decisão feita em juízo, pela Suprema Corte, determinou que as mulheres deveriam, sim, ter acesso ao local.
O templo se recusou a obedecer a ordem judicial e, desde então, diversas mulheres indianas desafiaram os protestos das sessões mais conservadoras do país e tentaram entrar no local, mesmo sob protestos violentos por parte dos homens.
A jornalista correspondente da CNN na Índia, Radhika Ramaswamy, teve o carro em que estava apedrejado, cena que foi assistida pelos policiais locais, que não moveram um dedo sequer.
Dessa forma, foi organizado, via redes sociais, um movimento liderado pelo governo, chamado Muro de Mulheres, chamando para que no dia 2 de janeiro de 2019, todas se unissem para permitir a passagem.
As primeiras duas mulheres a entrarem no templo foram registradas no vídeo abaixo:
2 women (Kanaka Durga n Bindu) below 50 years entered #SabarimalaTemple this morning, #Kerala CM confirms the news, priests close the temple for Shuddhi pic.twitter.com/0RPQvIRrsh
— Nellutla Kavitha (@iamKavithaRao) 2 de janeiro de 2019
Esse foi o resultado da muralha de 620 km, composto por cerca de 3 milhões de mulheres e homens. Elas conseguiram entrar por volta das 3h45 da manhã, com as tradicionais vestes pretas com lenço, acompanhada de policiais e outros manifestantes, que filmaram e deram proteção.
Elas entraram rapidamente, saudaram o Deus hindu e saíram o mais rápido possível. Foi sem dúvida uma vitória, e toda quebra de preconceitos, tem seu custo. Veja o que aconteceu depois.
Protestos e purificação do templo
No dia seguinte, o líder do templo mandou fechar as portas para que se pudesse fazer um complexo ritual de limpeza e purificação, já que mulheres “sujas” haviam pisado no mesmo.
Além disso, o líder de extrema direita hindu, evocou dois dias de greves, em protesto ao direito da mulher em visitar o templo. A partir disso, já foram contabilizados mais de 15 feridos, uma morte e 1.350 prisões, com carros de imprensa vandalizados, apedrejados, perseguições, estupros, muita violência e ódio.
As duas mulheres estão escondidas, protegidas pela equipe da CNN indiana, depois de passarem por diversos abrigos e terem que fugir, sem contato com a família e sofrendo risco de morte.
Veja a entrevista em inglês para o canal CNN, onde elas puderam dar voz às suas ideias. Duas frases que marcaram a entrevista, ditas pelas manifestantes, foram: “minha mensagem aos políticos é que eles devem obedecer as regras da Suprema Corte” e “por favor, quebrem o sistema e, por favor, quebrem os sistemas malignos”.
O que é a igualdade de gênero
Simples: mulheres e homens têm os mesmos direitos e deveres. Aplicável? Nem sempre.
Assim como existem atrocidades como essas ocorridas na Índia e em outros países, há também a desigualdade mais sutil, sentida nos pequenos gestos diários.
Seja a jornada tripla de trabalho, a obrigação das atividades relacionadas ao lar e filhos, as dificuldades que impedem o crescimento profissional das mulheres ou até mesmo a desigualdade salarial, o papel da mulher não é ainda igualitário.
Há muitos abusos físicos e emocionais, feminicídio, preconceito, rivalidade estimulada, vulgarização e sexualização da imagem e muitos fatores que mostram que ainda há uma boa estrada a se percorrer, em prol da igualdade de gênero.
Um dos caminhos em prol dessa igualdade começa entre as próprias mulheres e como elas se reconhecem – não como concorrentes, mas como companheiras. Nisso, a sororidade pode ser fundamental para o crescimento delas e do meio.
A igualdade traz equilíbrio e uma sociedade mais saudável mentalmente, gerando melhores frutos para todos, independente do gênero ou qualquer escolha que venha a fazer.