Os golpes aplicados em pessoas emocionalmente abaladas ou com julgamento inocente sobre os outros acontecem não é de agora. Porém, nessa época de pandemia, por conta do isolamento, da solidão e da carência afetiva, muitas mulheres estão se deixando levar pela lábia de falsos apaixonados, que na verdade são golpistas.
Um dos casos mais recentes aconteceu com uma empregada doméstica que usou todas as suas economias e pediu mais dois empréstimos para juntar R$ 50 mil e entregar a uma pessoa com a qual estava tendo um romance pela internet. Na verdade, o suposto apaixonado era uma quadrilha de estelionato.
Nem é preciso estar em aplicativos de relacionamento para ser encontrada por golpistas. Basta estar em qualquer rede social e publicar informações que incentivem os estelionatários a se aproximarem com uma intenção romântica.
“[Ele] falou que estava procurando uma pessoa do Brasil. Porque ele estava à procura de um relacionamento sério pra cuidar dele e ele cuidar da pessoa”, disse a vítima.
O perfil criado por essas quadrilhas costuma ter um certo padrão: homens bem-sucedidos, solteiros, à procura de um grande amor. Além disso, muitas vezes essa persona é estrangeira, o que atrai ainda mais as mulheres brasileiras que fazem parte do público-alvo das quadrilhas.
Nem todas as mulheres que recebem o contato desse falso amor caem no golpe, pois estão atentas a casos semelhantes. Ana, outra vítima que quase perdeu dinheiro, parou para pensar no óbvio e conseguiu escapar antes de ter prejuízo.
“O governo americano premiou ele e mais alguns com US$ 1.500.000. Gostou muito de mim, estava tremendamente apaixonado por mim. Ele queria muito que eu recebesse esse dinheiro”, revelou a mulher.
Como ela é corretora, o golpista disse, para atrai-la, que queria comprar uma casa em São Paulo. Mas Ana já estava ciente sobre golpes como esse, e também achou muito estranho que um homem desconhecido simplesmente quisesse dar a ela um milhão e meio de dólares.
O problema é que, mesmo sendo um tipo de crime bastante comum, muitas vítimas deixam de denunciar à polícia, pois ficam com vergonha do que os familiares e amigos vão pensar delas, além de julgá-las por terem perdido dinheiro dessa forma. O sofrimento seria em dobro.
De acordo com o delegado de polícia Carlos Henrique Ruiz, em entrevista ao R7, esses golpes são cheios de estratégia. “Já tivemos prisões de pessoas que ficam ali falando com dez mulheres ao mesmo tempo, o dia inteiro”.
Outra vítima, do interior de Santa Catarina, ficou arrasada por ter entrado em dívidas, ter sido enganada e ficado com vergonha da situação na qual se deixou envolver. “O meu choro é de tristeza. Saber que eu fui enganada. Nunca fiz mal pra ninguém. E vergonha. Vergonha porque meus filhos ficaram sabendo que eu tava mandando dinheiro”.
Para muitas mulheres, o envolvimento é tão grande, que elas continuam mantendo contato com o golpista, mesmo sabendo que estão sendo enganadas e evitando mandar mais dinheiro para eles. Elas ficam realmente apaixonadas e querendo evitar encarar a realidade.
“Eu respondi pra ele que eu tava bem, entre aspas, tava tentando levar a vida. Só que dinheiro meu ele não iria ver mais”, disse a faxineira Cleisla Garcia.
O delegado dá um alerta importante sobre como essas quadrilhas agem: “eles ficam rastreando as redes sociais e verificam pessoas que têm uma condição financeira, pessoas divorciadas, recém separadas, viúvas, que estão à procura de um relacionamento. Eles sabem escolher os alvos perfeitos”.
Os familiares também podem ficar atentos, se perceberem que alguém da família, que se encaixa nessas características de “alvo perfeito”, está muito tempo no celular, com um comportamento muito apaixonado e, depois, preocupado. Conversar com essa pessoa é bem importante para alertá-la sobre o perigo. Estar ao lado, sem julgar, e incentivar a denunciar na polícia também é essencial.