De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, à medida em que as mudanças climáticas começam a afetar a produção de alimentos, o mundo entra numa crise alimentar. É neste cenário que o micélio pode ajudar.
Acontece que existe uma falta de conhecimento sobre a saúde e as necessidades do solo em que são feitas as plantações. A biodiversidade produtiva do solo está em risco, levando a um rápido declínio de sua saúde, filtragem da água, sequestro de CO2 e outras funções do ecossistema.
Enquanto o mundo está despertando para a importância dos ecossistemas e da saúde do solo, um dos blocos de construção mais fundamentais do solo, a rede de fungos, praticamente tem sido ignorada até hoje.
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Os estudos acerca do micélio
Os ecologistas se perguntam se o micélio fúngico atua como uma forma rudimentar de comunicação entre árvores e plantas.
O fungo está sendo explorado como fonte de material novo e sustentável. Até mesmo o tamanho das redes fúngicas é difícil de compreender: globalmente, o comprimento total do micélio fúngico nos dez centímetros superiores do solo foi estimado em mais de 450 quatrilhões de quilômetros – ou cerca de metade da largura da Via Láctea.
Mas, embora difícil de compreender, o micélio pode ser uma das salvações para evitar que mais de 90% do solo da Terra esteja degradado até 2050. As redes de fungos podem diminuir a lixiviação de nutrientes no solo em 50%, além de contribuir com até 80% do suprimento de fósforo de uma planta.
Sua destruição, no entanto, acelera as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e interrompe os ciclos globais de nutrientes. Isso, por sua vez, tem impacto na produtividade de alimentos.
O micélio também tem um papel importante no tratamento das emissões de CO2. Jeremy Grantham, defensor do clima que prometeu 98% de seu patrimônio líquido para combater as mudanças climáticas, diz:
“Logo abaixo de nossos pés está um aliado inestimável na mitigação das mudanças climáticas – vastas e ocultas redes de fungos. Bilhões de toneladas de dióxido de carbono fluem anualmente das plantas para as redes de fungos. E, no entanto, esses sumidouros de carbono são pouco compreendidos. Ao trabalhar para mapear e aproveitar esse recurso ameaçado, mas vital para a vida na Terra, a Sociedade para a Proteção das Redes Subterrâneas é pioneira em um novo capítulo na conservação global”.
O micélio na moda
O micélio que está sendo estudado para ajudar na preservação ambiental é uma coisa maior e mais complexa. Mas, você vai ouvir falar bastante sobre o micélio daqui para frente, como uma alternativa ecológica para o couro.
O cogumelo tem uma composição que possibilita recriar o couro — mantendo a sua textura, durabilidade e qualidade. Este material é criado com o micélio, a parte vegetativa do fungo, que ficou conhecido como Mylo.
Ao cultivar as raízes dos cogumelos, processo que pode ser feito em qualquer lugar de forma simples, é possível criar uma superfície espessa e modificá-la com o apoio de ácidos leves, corantes e álcool.
A estilista Stella McCartney, que tem colaborado com a empresa Mylo Unleather desde 2017 e é conhecida pelo seu ativismo a favor dos animais no contexto da indústria, apresentou uma carteira criada com micélio no seu regresso à Semana de Moda parisiense, para apresentar a coleção de primavera-verão 2022.
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Num estudo realizado pela Nature Sustainability, em setembro de 2020, investigadores analisaram a relação entre o conceito da pele de cogumelo e os custos de produção, o seu valor sustentável e os processos de fabrico.
De acordo com a pesquisa, os resíduos podem ser transformados em materiais proveitosos e o processo armazena carbono quando a raiz do fungo está em crescimento.
Devido ao seu baixo consumo de água e eletricidade, este material biodegradável não só é uma opção mais barata, como pode ser trabalhado por pequenos artesãos.
Ou seja, a sustentabilidade é acessível e já faz parte do nosso dia a dia, só precisamos nos conscientizar e começar a colaborar da forma que cada um puder.
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