Atire a primeira pedra quem nunquinha usou uma “mentirinha do bem” para evitar longas explicações para os filhos. Desde uma forma de deixar a criança mais quieta e obediente ou até para evitar explicações mais elaboradas, elas acabam funcionando como um atalho. Veja alguns exemplos mais do que clássicos:
- Se fizer isso com os olhos, vai ficar assim para sempre;
- O homem do saco vai te pegar;
- Se não comer, o vento vai levar;
- Se não sentar para comer, vai tudo para o pé;
- Na volta a gente compra.
Pode ser que ajude a fazer a criança obedecer, comer melhor, sentar para comer, parar de fazer careta e até mesmo fazer birra. Mas já pensou no médio e longo prazo, quais podem ser as consequências disso? Pois pesquisadores de Singapura não somente pensaram, como foram a fundo para entender o que acontecia.
Mentir para os filhos faz seu nariz crescer
Brincadeiras à parte, as mentirinhas inocentes podem, sim, ter efeitos nocivos sobre os filhos. Um estudo mostrou que “a experiência infantil da mentira dos pais está relacionada à mentira aos pais na idade adulta”. Além disso, “pode afetar negativamente o funcionamento psicossocial das crianças”.
Foram entrevistados 379 adultos, com idades entre 18 e 28 anos, que frequentavam a Universidade Tecnológica de Nanyang. Durante o estudo, foram feitas perguntas sobre o relacionamento com os pais na infância e vida adulta. O principal ponto abordado foi com relação à mentira, em ambas as épocas.
Pediram para dizer como estava sendo o início da vida adulta, com relação a vitórias e dificuldades. Perguntaram também se os entrevistados ficavam a vontade para conversar com os pais sobre isso, principalmente quando as coisas não iam bem. Outro ponto analisado foi a quantidade de mentirinhas do bem que eles lembravam terem ouvido.
Um ponto muito interessante da pesquisa foi a observação feita entre os adultos que estavam passando por alguma dificuldade. Aqueles cujos pais procuravam conversar mais do que contar essas mentiras tinham maior abertura para falar sobre a realidade. Por outro lado, aqueles cujos pais usavam esse artifício evitavam mostrar a realidade.
Como evitar
Da mesma forma que os pais faziam com eles quando crianças, os jovens procuravam contar mentirinhas do bem para eles. Não porque queriam fazê-lo, mas sim por ser mais fácil e aceitável no seu ponto de vista. Além disso, há uma maior incidência de agressividade, intromissão e falta de respeito às regras, tanto quando crianças quanto jovens.
Então, o ideal é procurar sempre conversar com a criança, mesmo que repetidamente, evitando assim problemas futuros. Veja então o que poderiam ser substitutos interessantes, para aquelas frases famosas citadas logo acima e tão usadas no dia a dia:
- Se fizer isso com os olhos, vai ficar assim para sempre: nossa, você é tão bonito (a), que tal dar um sorriso para mim, ao invés dessas caretas?
- O homem do saco vai te pegar: se você não (atividade esperada), tal coisa pode acontecer (simples e clássico diálogo);
- Se não comer, o vento vai levar: se não comer bem, pode adoecer. Aproveite para explicar a importância do alimento para o corpo, respeitando o limite da criança;
- Se não sentar para comer, vai tudo para o pé: nesse caso, é melhor conversar e falar da importância de estar sentado com todos à mesa. Enfatizar a importância disso para a digestão, relacionando ao tempo que leva para comer, pode ajudar;
- Na volta a gente compra: se não quer comprar porque vai estragar logo, explique. Se é por falta de dinheiro, explique também e aproveite para falar sobre planejamento financeiro. Se é porque vai ficar abandonado com os outros 500 brinquedos, não tem hora melhor para conversar.
Com paciência, carinho e diálogo, tudo se resolve. Claro que um não, firme e respeitoso, é muitas vezes fundamental para a formação do caráter. Então, para que inventar mentirinhas, quando há uma chance maravilhosa para ajudar seu filho a ser mais resiliente? Converse, se não agora, uma hora a criança vai entender e o laço entre vocês vai se fortalecer.