Talyssom, de 8 anos, e Vanessa, de 15 anos, são dois pacientes portadores de mucopolissacaridose, doença hereditária que compromete ossos, articulações, vias respiratórias e sistema cardiovascular.
Para tratar da condição, uma vez por semana eles vão ao Hospital Santo Antônio, em Taiobeiras, Minas Gerais, para fazer uma reposição de enzimas. O procedimento dura 5 horas e é bastante cansativo, já que eles precisam viajar 67 quilômetros da cidade onde moram até Taiobeiras.
Porém, com a pandemia de coronavírus, a pediatra Márcia Novaes decidiu fazer a infusão do medicamento nos pacientes em sua casa para preservar a saúde deles. Embora não houvessem casos de coronavírus na cidade, seria um grande risco deixá-los estar no ambiente mais propício ao contágio.
Então, há cerca de 2 meses, a médica e o enfermeiro Alex Ferreira, que já cuidam das crianças há 7 anos, desde o início do tratamento, passaram a dedicar seu dia de folga na semana para cuidar de Talyssom e Vanessa, em uma atitude admirável de preocupação com o próximo.
Os pacientes vão à casa da pediatra acompanhados de suas mães e são levados por um transporte da prefeitura. Lá, a sala foi adaptada com oxigênio e bombas de infusão para medicar os dois pacientes.
“Apesar de não ter casos confirmados na cidade, houve uma mudanças no hospital para isolar pacientes suspeitos e achei melhor tirá-los de lá. Eu pensei, eu moro sozinha, minha casa é grande e aí resolvi pedir autorização na unidade para trazê-los. É muito gratificante poder ajudar e até o fim da pandemia, eles vão tomar a medicação aqui. Ajudar o próximo é o que podemos fazer nesse momento tão difícil”, disse a médica.
Um ambiente acolhedor
Não demorou para que Talyssom e Vanessa demonstrassem o quanto estavam mais tranquilos e felizes sendo tratados em um ambiente tão acolhedor. Embora o Hospital seja o local mais adequado, lá eles passavam todo o tempo da infusão de enzimas entediados e tendo que lidar com aquele momento desconfortável, que não é o melhor para a saúde emocional de ninguém.
Mas, agora, na casa da pediatra, eles se sentem totalmente acolhidos e ficam à vontade, das 7h às 14h. Junto das mães, eles são recebidos com café da manhã, depois almoçam e ainda tomam um café da tarde antes de pegarem estrada de volta para casa.
Enquanto o medicamento está sendo administrado, os dois se divertem ouvindo músicas e assistindo a filmes. A médica conta que até o comportamento deles mudou:
“Eles estão muito felizes aqui e não querem voltar para o hospital. Faz sete anos que acompanho os dois e nunca tinha visto a Vanessa sorrir, vi aqui em casa pela primeira vez. O ambiente é acolhedor e eles têm mais privacidade. Na minha sala, tem uma tela grande de TV e eles estão maravilhados com os desenhos e as músicas”.
Trabalhando com amor
Levar pacientes para casa e ter com eles uma relação de proximidade não é novidade, nem para a pediatra Márcia, nem para o enfermeiro Alex.
“Já trago os pacientes há muito tempo aqui em casa, eles vêm almoçar, tomar um suco ou as vezes dormem aqui. Acho importante essa relação, eles têm muita confiança em mim, ligam no meu celular quando precisam e são bem carinhosos”, conta a médica.
A relação dessas duas crianças com o enfermeiro também é incrível, pois ele as trata como filhos. Desde que os dois começaram a fazer o tratamento em Taiobeiras, é Alex quem realiza a infusão do medicamento. O pessoal do Hospital até se referem a Talyssom e Vanessa como filhos de Alex, de um jeito carinhoso.
“É um prazer cuidar deles e são tratados como meus filhos. Eu sempre falo deles na minha casa e o Talyssom já passeou lá, e conheceu minha família. Nas datas comemorativas, como Natal e Páscoa, os dois também estão incluídos na lista de presentes”.
Esses dois profissionais são realmente exemplares, pois não é qualquer um que se deixa misturar a vida pessoal com a profissional. O que eles fazem é por amor mesmo, e com certeza faz toda a diferença na qualidade de vida dos pacientes que têm a sorte de serem tratados por eles.
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