Depois do que ocorrido em Suzano (SP), em março de 2019, muito se tem questionado sobre o que se aprendeu com os outros massacres em escolas que ocorreram anteriormente. Será que foi tudo em vão? Vidas são encerradas prematuramente, jovens perdem a capacidade de andar, cicatrizes – físicas, emocionais e sociais – ficam marcadas pelo resto da vida.
Quais são as lições que se pode tirar? Será que é momento para uma discussão sobre a venda de armas? Será que se deve rever os limites na escola e o papel da família e do educador? O que está acontecendo com a sociedade?
São respostas complexas, que pedem um olhar cuidadoso. Esse tipo de patologia não é algo recente, nem no Brasil e muito menos no mundo. Relembre alguns casos de massacres em escolas.
Massacres em escolas que chocaram o mundo
Infelizmente, alunos ou ex-alunos entrando armados em escolas e matando ou ferindo pessoas não é algo novo. Esse ato não fica restrito a uma idade específica, classe social ou até mesmo estrutura de segurança para acontecer, como você pode ver a seguir.
1. Escola Politécnica de Montreal
Mesmo um dos países mais seguros do mundo já sofreu com casos de atiradores descontrolados cometendo atos irracionais e massacres em escolas.
Esse caso ocorreu em Montreal, no Canadá, no dia 6 de dezembro de 1989. Marc Lepine, com 25 anos na época, entrou em uma das salas de aula da universidade e, armado, colocou todos os homens para fora.
Ficaram somente as nove poucas mulheres que faziam o curso. Ele as colocou alinhadas na parede e, antes de atirar em todas com um rifle, disse: “estou lutando contra o feminismo. Vocês são mulheres, vocês serão engenheiras. Vocês são um bando de feministas”.
Em sua mente misógina e preconceituosa, uma mulher que estuda uma profissão dita como masculina merecia morrer. Em sua loucura, ele saiu da sala com o rifle e uma faca de caça, ferindo as pessoas nos corredores, antes de se matar.
Foram, ao total, 18 feridos e 14 mulheres mortas.
2. Creche Fabeltjesland
Quando se trata de vidas adultas perdidas, é realmente impactante, mas o que dizer de crianças e bebês? Em Dendermonde, na Bélgica, no fatídico dia 23 de janeiro de 2009, Kim De Gelder, com 20 anos na época, entrou em uma creche e esfaqueou 15 pessoas, matando três delas.
Entre os mortos, foram dois bebês de meses de idade, que não puderam ter nem a oportunidade do primeiro parabéns. Também uma das cuidadoras, de 54 anos, faleceu.
O criminoso estava maquiado como o coringa, do filme Batman, com cabelos vermelhos e roupas similares às do personagem. Exatamente um ano antes, o ator Heath Ledger tinha estrelado como o vilão do filme, inspirando a caracterização do assassino.
3. Escola Ikeda
No dia 8 de junho de 2001, em uma escola japonesa, Mamoru Takuma matou oito pessoas e deixou mais 15 feridas, em um atentado realizado a sangue frio.
Ele tinha 37 anos e já tinha trabalhado como zelador do colégio antes de ser demitido. Apresentava severos problemas de comportamento, de origem mental, chegando a falar em suicídio.
Nesse dia, ele entrou na escola com uma faca escondida, matando e ferindo crianças entre 7 e 8 anos. O homem não mostrou arrependimento. Na realidade, ele disse que seu arrependimento era não ter levado combustível para matar mais pessoas.
4. Escola Gutenberg
Mais um dos massacres em escolas, esse caso aconteceu no dia 26 de agosto de 2002, na Escola Gutenberg que fica localizada em Turíngia, na Alemanha.
Foram 17 mortos e sete feridos em um atentado cruel, praticado por um ex-aluno que queria se vingar por ter sido colocado para fora da escola, por falsificação de documentos. Com 19 anos, Robert Steinhäuser se vestiu com roupas no estilo ninja, com máscara e duas armas, atirando em todas as pessoas ao seu redor.
Ele só parou quando um dos professores conseguiu imobilizá-lo e levá-lo para uma sala fechada, onde ele resolveu se suicidar.
5. Instituto Columbine
Eric Harris e Dylan Klebold, dos Estados Unidos, compraram armas pela internet e foram até a escola, onde ainda frequentavam, com o intuito de matar os colegas e depois cometer suicídio.
Foram 13 mortos e 25 feridos no massacre que gerou uma forte discussão sobre o desarmamento, além do documentário “Tiros em Columbine”, o filme “Elefante” além de um episódio na série American Horror Story.
Deixaram para trás famílias feridas e sonhos não realizados, bem como o constante medo onde deveria ser um porto de segurança.
Massacres em escolas no Brasil
Infelizmente, também no Brasil ocorreram casos similares de massacres em escolas, sendo a mais recente o caso em Suzano, no interior de São Paulo. Foram episódios alarmantes, mesmo em meio ao caos que acontece na segurança pública do país.
1. Suzano
O atentado mais recente ocorrido no país aconteceu no dia 13 de março de 2019, na Escola Estadual Raul Brasil, no interior de São Paulo, matando oito pessoas e ferindo outras onze. Os criminosos se suicidaram depois.
Os responsáveis pelos assassinatos foram G. T. M., de 17 anos, ex-aluno da instituição e Luiz Henrique de Castro, de 25 anos. O mais velho dirigia o veículo utilizado no crime, conseguido depois de assaltar a concessionária do tio do menor, que foi assassinado no crime. Em seguida, foram até a escola e entraram tranquilamente, sem nenhum empecilho.
Lá, sacaram as armas e atiraram em todos ao redor, sem escolher uma vítima. O menor utilizou também um machado, que ficou preso no ombro de um dos alunos, que conseguiu fugir. O caos terminou com a chegada da polícia, que estava próxima vasculhando a área, depois que foi chamada até a concessionária, procurando pelos criminosos.
Assim que a polícia entrou na escola, o menor atirou no seu comparsa e se matou. Os alunos ficaram em pânico e não queriam abrir as portas das salas nem para a polícia.
As famílias choram as perdas de jovens bons e esforçados, com uma vida inteira pela frente, ceifados pela loucura de uma sociedade doente.
2. Realengo
O crime ocorreu no dia 7 de abril de 2011, no colégio Tasso da Silveira, localizada em Realengo, no Rio de Janeiro.
Wellington Menezes de Oliveira, que havia estudado na instituição, entrou na mesma afirmando que faria uma palestra para os jovens, na época, ele já estava com 23 anos.
Entrando na sala de aula, ele pegou sua arma e atirou nos alunos que ali estavam, fazendo, ao final, 12 vítimas fatais. Estudantes que estavam na escola, tentando de alguma forma ser alguém melhor para si, para a família e sociedade.
Wellington foi baleado na perna por um policial que foi alertado sobre o crime, se matando em seguida, mas não antes de deixar uma carta extremista, falando sobre os impuros – termo constantemente utilizado nos chamados chans, fóruns criminosos na internet.
3. Salvador
A capital bahiana também passou por um dos massacres em escolas no Brasil. Dessa vez o autor foi um aluno que sofria bullying e que tinha acesso a armas de fogo em casa.
No dia 28 de outubro de 2002, no colégio particular Sigma, localizado em bairro de classe média, o aluno menor de idade, cujo nome foi limitado às suas iniciais E.R, de 17 anos, matou duas colegas de sala com uma pistola calibre 38, roubada de sua mãe, uma policial militar.
As jovens tinham 15 anos, sendo que a primeira morreu imediatamente e a segunda ainda foi levada ao hospital São Rafael, onde não resistiu.
Depois de atirar nas duas estudantes, ele caminhou tranquilamente para a quadra de esportes, onde planejava se matar, mas foi persuadido pela polícia militar e pelo irmão a se entregar depois de uma hora de negociações, sendo levado para a delegacia.
4. Janaúba
Ao norte do estado de Minas Gerais, ocorreu outro caso de massacre em escolas que chocou o país, tamanha a frieza e maldade, cometido com crianças pequenas, que nem poderiam se defender ou até mesmo fugir.
No dia 5 de outubro de 2017, Damião Soares dos Santos entrou na creche na qual trabalhava como zelador há muitos anos e estava de licença, alegando que iria entregar um atestado médico. Chegando lá, entrou em uma sala de aula, colocou gasolina em seu próprio corpo, espalhando também em outras pessoas, adultos e crianças, e ateou fogo em seguida.
Em meio às chamas, ele abraçou várias crianças para que morressem com ele, sendo todas entre 3 e 7 anos de idade. Foram 37 feridos e 13 mortos, sendo 10 crianças e três professoras.
Há três anos ele fazia tratamento com o acompanhamento de profissionais da saúde mental para tratar a morte do seu pai. Depois dessa monstruosidade, apenas sua irmã – que organizou o enterro – compareceu ao velório, sendo totalmente desprezado por toda a família, pela região e pode-se dizer, pelo país.
5. Goiânia
Outro caso envolvendo o bullying aconteceu na cidade de Goiânia, em Goiás. No dia 20 de outubro de 2017, pouco tempo depois do atentado em Minas Gerais.
O assassino, com 14 anos e aluno do colégio Goyases, planejou o crime por dois meses, buscando inspiração nos atentados anteriores. Seu intuito era matar apenas um jovem da escola, que o assediava continuamente.
E foi o que ele fez, porém, na delegacia, ele confessou que depois de matar o primeiro, ficou com o desejo de matar mais e atirou em muitos outros. No total, tirou a vida de dois colegas e feriu quatro outros, inclusive, uma menina que perdeu a capacidade de andar depois do tiro.
Foi a coordenadora Simone Maulaz Elteto que conseguiu acalmar o assassino e fazer com que ele deixasse a sala, sendo preso logo em seguida.
Muitas vidas não vividas, outras recomeçadas. A cada massacre, lições são esquecidas e a sociedade entra em comoção, chorando por seus jovens. Que cada um desses e outros casos de massacres em escolas possam servir como lembranças do quanto a vida é efêmera, aproveitando melhor cada dia.