Certamente você já ouviu falar sobre a intolerância à lactose. Essa condição está cada vez mais comum à medida em que as pessoas tomam consciência da sua existência. Isso quer dizer que ela já existia antes de ser popular como agora, porém buscavam-se outras causas para os sintomas e as pessoas acabavam passando a vida pensando que tinham outros tipos de problemas digestivos.
O que ocorre agora é que já se sabe o que acontece no organismo que tem intolerância à lactose e não é uma frescura, como muitos ainda pensam. A intolerância ocorre quando um organismo tem deficiência na produção da enzima lactase que é a responsável pela síntese da lactose. Ou seja, é como se o organismo fosse incompatível à lactose e a rejeitasse, demonstrando isso através dos sintomas.
Dentro dessa intolerância já são classificados tipos diferentes, de acordo com a intensidade dos sintomas e de quando ela começa na vida da pessoa. Saiba quais são as causas dessa condição, bem como os sintomas, diagnóstico, tratamento e outras recomendações importantes.
Causas da intolerância à lactose
Antes de tudo é bom saber que a tão falada lactose é um carboidrato, chamado popularmente de açúcar do leite. De forma mais técnica, que interessa para quem sofre do problema, a lactose é um dissacarídeo que se forma quando ocorre a junção de dois monossacarídeos, chamados galactose e glicose.
Então, ao chegar no intestino delgado, para que a lactose seja absorvida, precisa encontrar uma quantidade de enzimas chamadas galactases, como suas “recepcionistas”. É comum que todos os mamíferos tenham essas enzimas. Mas no caso das pessoas intolerantes, ela não está presente ou está em quantidade muito reduzida, não sendo suficiente para absorver a lactose.
Sendo assim, existem 3 tipos de intolerância, que provocam os mesmos sintomas, mas variam de acordo com a origem.
1. Intolerância congênita à lactose
Congênito quer dizer que ocorre desde o nascimento. Então, nesse caso, a criança já nasce com a incapacidade de digerir a lactose porque seu organismo não produz a lactase. Casos assim são raros e ocorrem quando o pai ou a mãe transmitem o gene da intolerância ao bebê.
2. Intolerância primária
Esse tipo de intolerância se desenvolve ao longo da vida, variando conforme a dieta de cada pessoa. Enquanto bebês, por causa da amamentação, a produção da enzima lactase é bastante estimulada. Mas conforme for crescendo, se a pessoa deixar de consumir alimentos lácteos, a produção da enzima será cada vez menor. Não quer dizer que todas as pessoas que deixam de comer ou reduzem muito o consumo de produtos lácteos vão desenvolver a intolerância à lactose.
3. Intolerância secundária
O terceiro tipo ocorre quando há alguma doença ou machucado no intestino, que é onde a enzima é produzida, como gastroenterite, doença celíaca ou doença de Crohn. Como consequência do problema, ele interrompe ou reduz a produção de lactase, fazendo com que a intolerância à lactose comece. Mas na maior partes desses casos, quando o problema intestinal é curado, a produção de lactase volta ao normal e a pessoa deixa de ser intolerante.
Principais sintomas
Quando o organismo recebe uma quantidade de lactose e não há enzimas lactases para metabolizar esse carboidrato, então ele fica “solto” no sistema gastrointestinal e acaba gerando os sintomas desconfortáveis da intolerância, que são:
1. Náuseas e vômito
Um dos primeiros sintomas de quem é intolerante é sentir o desconforto estomacal através das náuseas. Elas costumam ocorrer, podendo variar conforme o caso, entre 30 minutos e 2 horas após a ingestão da lactose. É o tempo que leva para ela chegar ao intestino. As náuseas nem sempre levam ao vômito. Vai depender do quanto a pessoa é intolerante.
2. Dor e inchaço abdominal
Logo que surgem as náuseas, a dor na região abdominal também começa e nota-se uma expansão na barriga, pois o intestino está inchando. É um típico sinal de reação alérgica, da mesma forma que o rosto de uma pessoa incha quando ela tem rinite e é exposta aos ácaros.
3. Azia
Outro sintoma, que pode vir antes ou depois dos já mencionados, é a azia. Essa sensação de queimação é outro alerta do organismo para dizer que algo lá dentro está fora do lugar e precisa ser expelido.
4. Diarreia
Por fim, mais um dos sintomas mais comuns é a diarreia, pois a lactose de fato provocou um “desarranjo” no processo normal do intestino e ele vai tentar colocá-la para fora de algum jeito. Pelo fato do risco de aumentar a acidez nas fezes é comum a pessoa sentir ardência na região anal, que pode evoluir para assadura, caso a diarreia perdure.
A intensidade desses sintomas varia muito em casa caso. Há quem seja altamente intolerante e vai sentir tudo isso de forma intensa. E há quem até duvide da causa do mal estar por não notar que isso acontece sempre que ingere lactose. Por isso, é por prestar atenção no próprio organismo e até fazer testes isolados para observar se os sintomas ocorrem somente com a lactose do intestino.
Como diagnosticar e que médico consultar?
Hoje em dia os médicos já estão bem acostumados em receber pacientes com sintomas de intolerância à lactose e relacioná-los a esse problema. O médico a ser procurado é o gastroenterologista. Mas se não puder ir logo ao especialista, pode ir primeiro ao clínico geral para receber um encaminhamento.
No consultório, a primeira fase do diagnóstico é o exame clínico, quando o médico faz perguntas sobre o que o paciente sente e em que situações. Por isso é importante prestar atenção nos detalhes dos sintomas para saber explicar.
Depois o médico precisa ter certeza de que se trata da intolerância. Para isso, poderá fazer 4 tipos de exames, que são:
1. Teste de hidrogênio expirado
As bactérias que vivem no intestino humano produzem hidrogênio quando entram em contato com alguma substância que não foi corretamente absorvida, como por exemplo a lactose nas pessoas intolerantes.
Quando isso acontece, parte desse hidrogênio entra na corrente sanguínea e vai até os pulmões. Quando chega lá é liberado naturalmente pela expiração e é possível usar um aparelho para medir a quantidade de hidrogênio que a pessoa está expirando.
Para fazer o teste a pessoa precisa ficar 12 horas em jejum. Depois ela vai soprar lentamente em um aparelho para fazer a medição da quantidade normal de hidrogênio em seu organismo.
O próximo passo é consumir uma quantidade de lactose e esperar que chegue ao intestino em contato com as bactérias. Então fará um novo teste de sopro para verificar se o volume de hidrogênio aumentou. Assim é possível saber se a lactose foi ou não sintetizada e se existe ou não a intolerância.
2. Teste de intolerância à lactose
Para fazer esse teste o paciente deverá estar em jejum e receberá uma dose de algum alimento com lactose. Então deverá esperar um tempo determinado para verificar se os sintomas vão começar e para que seja colhida uma mostra de sangue.
Em quem não tem intolerância, vai haver um aumento nos níveis de glicose. Em que tem intolerância esse aumento não vai acontecer porque a lactose não foi sintetizada, ou seja, não foi para a corrente sanguínea onde viraria glicose. Esse exame pode ser feito gratuitamente pelo SUS.
3. Teste de acidez nas fezes
O exame de fezes é menos comum, pois não é o suficiente para indicar uma intolerância, mas é um complemento de um dos outros exames. Para realizá-lo, o paciente deverá colher uma pequena quantidade das suas fezes em um momento em que estiver com diarreia e acredite ser por causa da lactose. O laboratório irá medir o nível de acidez nas fezes para verificar se condiz com um caso de intolerância.
4. Teste genético
Se esse não fosse o teste mais caro entre todos, seria o mais utilizado, porque é o mais preciso. Através dele o especialista já observa a presença ou ausência das enzimas diretamente no genoma do paciente. Ele pode ser feito por coleta de sangue ou por coleta de saliva.
Esse é um teste recomendado para quem tem sintomas muito agressivos em contato com a lactose e não seria viável fazer a pessoa consumir esse carboidrato para fazer outros testes. Mesmo que essa agressividade de sintomas já seja um sinal claro para um resultado positivo de intolerância, ainda se faz necessário um exame que confirme.
Intolerância à lactose tem cura?
Ainda não existe cura para a intolerância á lactose, apenas tratamento para que a pessoa conviva com a condição de forma tranquila, evitando os sintomas. Normalmente a primeira atitude a tomar é uma mudança nos hábitos alimentares, evitando qualquer alimento que contenha lactose. Mas essa não é a única forma de tratar. Veja no próximo tópico.
Como funciona o tratamento?
Nem sempre a pessoa diagnosticada com intolerância vai precisar abandonar 100% os alimentos com lactose.
1. Mudanças na alimentação
Existem alimentos com teor reduzido desse carboidrato, que são ótimos para quem tem um nível bem baixo de sintomas, apenas quando é exposto a grandes quantidades.
Mesmo que a pessoa precise deixar de consumir tudo que possa ter lactose, hoje em dia isso não é mais um problema. Cada vez mais há leites vegetais e receitas sem lactose que utilizam vários produtos substitutos, saborosos e com textura semelhante ao que tem lactose.
Ainda no sentido da alimentação, outra medida importante é aumentar o consumo de alimentos probióticos e prebióticos. Os probióticos são alimentos ricos em bactérias saudáveis para o intestino e os probióticos são vegetais que possuem fibras importantes para a alimentação dessas bactérias. Com uma boa quantidade dessas bactérias saudáveis agindo no intestino, os sintomas podem ser reduzidos.
2. Suplemento de enzimas
Outro método adotado é a suplementação com enzimas lactases. Para esse tratamento, primeiro a pessoa precisa parar de consumir qualquer fonte de lactose para limpar o organismo dessa substância. Depois, aos poucos, é feita uma reintrodução de determinadas fontes de lactose na alimentação para analisar qual é o nível de tolerância que a pessoa suporta sem ter sintomas.
Depois que se sabe qual é esse nível, a pessoa tem noção do quanto pode comer de lactose de cada vez. Junto com esse esclarecimento o médico irá prescrever uma suplementação de lactase para ser ingerida antes das refeições em que a pessoa sabe que vai comer lactose. Assim, como terá enzimas o suficiente para a quantidade que ela pode comer, não haverá efeito colateral.
Esse tratamento costuma ser escolhido para que a pessoa não tenha deficiência de cálcio, vitamina D, proteína ou riboflavina, pois os alimentos lácteos são ricos nesses nutrientes que são essenciais para a saúde.
O que fazer em caso de crise?
Quando a pessoa ainda não sabe que tem intolerância à lactose e ingere esse carboidrato e começa a ter os sintomas, ela precisa tomar medidas para acelerar a eliminação da lactose. Não precisa agir com desespero porque não vai adiantar.
As dicas são para ir tomando bastante água, tomar chás calmantes para aliviar as contrações musculares que causam dor e chás que aliviam náuseas. Suco verde e outros alimentos detox também ajudam. Nesse momento é importante prestar atenção nos sintomas e procurar um médico para fazer os exames e ter certeza se é intolerante ou se os sintomas vieram de outra causa.