Conforme explica o pediatra e educador Dr. Cecim El Achkar em seu blog, existem os bebês hipoativos, os normativos e os hiperativos. São temperamentos que se apresentam desde os primeiros dias de vida, e os que mais chamam a atenção são os bebês com características de hiperatividade.
Esses bebês, como explica o médico, “já nos primeiros dias de vida, arregalam os olhos, passam mais tempo acordados, franzem a testa muito precocemente e reclamam de tudo: do leite não sair adequadamente, do incômodo da roupa, de ficar sozinho. Eles não ficam quietos um minuto.”
Mas, essas características não significam que o bebê tenha nascido com TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Esse transtorno ganhou popularidade nos últimos anos e faz com que muitos pais “diagnostiquem” os seus filhos, e até os filhos dos outros, como se fosse algo muito comum e fácil de identificar.
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Hiperatividade ou agitação?
É compreensível que os pais se preocupem quando seu bebê ou sua criança pequena tem um temperamento com características de hiperatividade. Só que existem vários fatores a serem considerados antes de chegar a um diagnóstico que exija qualquer tratamento.
Em primeiro lugar, os pais devem entender as diferenças entre hiperatividade e agitação. Afinal, é normal que algumas crianças sejam mais agitadas do que outras em determinadas situações. E, às vezes, esse comportamento pode ser uma manifestação de outra coisa que esteja incomodando a criança, física ou emocionalmente.
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Cuidado com o diagnóstico precoce
Devido à preocupação com o comportamento do bebê ou da criança pequena, muitos pais buscam ajuda médica ou psicológica pedindo que seu filho seja diagnosticado com hiperatividade.
O fato de obter um diagnóstico é reconfortante porque você passa a saber com o que está lidando e a garantir que não é culpa sua. Afinal, o TDAH é um transtorno neurobiológico que obrigatoriamente se manifesta desde a infância. E, na infância, o primeiro sintoma a ser percebido é a hiperatividade.
Porém, conforme explica a psicoterapeuta Cacilda Amorim, não é possível diagnosticar a hiperatividade como um transtorno antes dos 5 ou 6 anos de idade. Antes disso, o cérebro do bebê ou da criança pequena ainda está maturando.
E, mesmo aos 5 ou 6 anos, pode ser muito cedo para um diagnóstico definitivo, já que algumas áreas do cérebro amadurecem mais cedo, outras mais tarde. Por exemplo, a área de regulação da motricidade amadurece em torno de 10-12 anos. Já o controle de impulso, equilíbrio emocional e tomada de decisão, apenas após os 20 anos de idade.
É por causa disso, como esclarece a psicoterapeuta, que os sintomas mais intensos da hiperatividade em bebês e crianças pequenas tendem a desaparecer por volta dos 10-12 anos. Igualmente explica porque, aos 21 anos, uma pessoa supostamente alcançaria a “idade da razão”.
O que pode ser se não for hiperatividade?
Se você identifica características de hiperatividade no seu bebê ou criança pequena, o Dr. Cecim El Achkar faz algumas sugestões do que os pais devem observar:
“Com muita frequência, encontramos mães reclamando que seus filhos não param, pulam o tempo todo, são agressivos, dormem mal, batem-se a noite toda, não comem bem. Em uma avaliação mais profunda, encontraremos crianças com dor, geralmente, por uma esofagite, por refluxo gastroesofágico e, como não sabem dizer o que sentem, tentam, de todas as formas, livrarem-se da dor com essas atitudes. Parecem hiperativos, mas, com o tratamento correto, transformam-se em crianças calmas e dóceis.”
E os problemas estomacais mencionados pelo médico são apenas um exemplo. “Há também muitos casos de crianças – e até adultos – que têm dor por alergia ou intolerância a algum alimento, tornando-se, também, pessoas com manifestações de hiperatividade. A partir do momento em que a alimentação é reformulada, também ocorre mudança no comportamento”, explica.
Outros motivos para um comportamento de hiperatividade, que não têm a ver com um transtorno de comportamento, são: alimentação deficiente (criança que come demais ou passa fome), verminose, agressão, falta de atenção dos pais, enfim. As respostas podem ser muitas, e não quer dizer que seu filho tenha o transtorno.
Então, com certeza vale a pena levá-lo ao médico, mas com a mente aberta para todas essas outras possibilidades, ao invés de desejar um diagnóstico que não pode ser dado tão cedo ou que sequer faz sentido, só para sentir alívio.
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Artigo com informações de Clínica Tio Cecim e Instituto Paulista de Déficit de Atenção