Pouco conhecida entre a população, a hidrocefalia de pressão normal ou HPN, pode limitar os movimentos, memória, fala e até a capacidade de controlar a bexiga. Por isso, é muitas vezes confundida com demências, a exemplo do Alzheimer e Parkinson. Porém, com o tratamento adequado, o paciente vai recobrando sua vida aos poucos, apresentando melhoras significativas.
E foi exatamente o que aconteceu com John Searle, um canadense de apenas 69 anos. Aos poucos, os problemas começaram a aparecer, como a perda de memória de curto prazo, lembrando seu pai e sua irmã, que tiveram Alzheimer. Além disso, não conseguia mais andar direito nem controlar a bexiga. Sentia o declínio rapidamente e não sabia como controlar.
Isso porque já tinha sido diagnosticado e tratado por Parkinson, sem melhora alguma, ficando com muita raiva e deprimido. Porém, ao conhecer o médico Alfonso Fasano, que trabalha no Toronto Western Hospital, as coisas mudaram. Ele mostrou que o problema era o HPN e não demência, sendo o tratamento totalmente diferente.
Depois de duas cirurgias no cérebro, ele está melhorando cada dia mais, sua memória já não falha tanto e as caminhadas estão mais longas. Para isso, ele exercita o corpo, com um fisioterapeuta e personal trainer. Além de exercitar também a mente, para que se recupere do tempo perdido, voltando aos poucos às suas funções normais.
O que é hidrocefalia de pressão normal
De acordo com o médico Dráuzio Varella, “é uma síndrome neurológica cuja principal causa é o acúmulo crônico do liquor nas cavidades naturais e intercomunicantes dos ventrículos encefálicos – dois laterais (direito e esquerdo), o IIIº e o IVº ventrículo – que dilatam e comprimem os tecidos nervosos ao redor”. Ou seja, ocorre um acúmulo de fluído nos ventrículos do cérebro.
Ao contrário dos outros tipos de hidrocefalia, o cérebro não sofre com pressão constante, tendo assim características muito próprias. A doença HPN é pouco conhecida e gera dificuldades em três áreas específicas, segundo o médico. Elas são “dificuldade para caminhar (apraxia da marcha), incontinência urinária e deficiência progressiva da memória e/ou das funções cognitivas”.
Como é feito o diagnóstico
Existem alguns exames que ajudam a diagnosticar a doença facilmente, se o médico estiver atento aos sintomas. Entre eles, são realizados alguns procedimentos, como uma investigação do histórico de doenças, bem como testes físicos e mentais. Além disso, também se deve realizar uma tomografia e ressonância magnética, observando o tamanho dos ventrículos.
Outro exame realizado somente depois desses primeiros a fim de confirmação é o Tap-test. Ele visa confirmar se o diagnóstico é preciso e se a cirurgia pode de fato ajudar o paciente. Para isso, se faz uma punção para retirada do líquido, com testes antes e depois. Se houver melhora nos resultados, a cirurgia é recomendada.
Sintomas de HPN
Os principais sintomas dessa doença envolvem três áreas distintas: instabilidade motora, com dificuldade para caminhar, redução da capacidade cognitiva e menor controle da bexiga. Também podem aparecer sintomas de depressão, “vômito, sonolência, dor de cabeça, visão turva, irritabilidade” e outros. Muitos são confundidos como doenças próprias do desgaste do corpo ou demência, dificultando o diagnóstico da hidrocefalia de pressão normal.
Instabilidade motora
Quando o paciente desenvolve a doença HPN, um dos sinais mais marcantes é a diminuição da capacidade motora. O corpo parece ficar mais fraco e há perda do controle dos membros inferiores, causando quedas e acidentes. Pode evoluir a ponto do mesmo perder os movimentos, ficando em cadeiras de rodas.
Capacidade cognitiva
Outro sintoma muito claro é a diminuição da capacidade cognitiva. A memória é o primeiro ponto a ser afetado, retendo somente a de longo prazo. Coisas que aconteceram há pouco tempo têm maiores chances de sumir da mente do paciente. Desde as banalidades do dia a dia, como perder as chaves ou esquecer consultas médicas e encontros.
Controle da bexiga
A incontinência urinária também está presente na hidrocefalia de pressão normal. Infelizmente, o paciente passa a depender de fraldas com o tempo, perdendo totalmente o controle da bexiga. Começa pequeno, com escapes espaçados, porém logo se torna um problema, sendo totalmente reversível com o tratamento.
Tratamentos
O tratamento é até simples, mas requer bastante esforço do paciente e sua família. A primeira coisa a fazer é a neuroendoscopia cerebral. De forma leiga, é uma cirurgia pouco invasiva, com o objetivo de retirar o fluído do cérebro. Pode ser necessário fazer mais de uma vez, mas os riscos são mínimos e acaba regulando o fluxo do líquido.
Também é necessário que o paciente faça exercícios físicos e mentais, para recuperar e reforçar a musculatura perdida. Reaprender alguns movimentos também pode levar tempo, então requer paciência. Além disso, o cérebro deve ser estimulado sempre, seja através de boas conversas, leituras, passeios, exercícios e afins.
