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O que um grande autor ensina sobre convivência

Você se sente invisível? Saiba que não está sozinha. Veja o que Saramago fala sobre convivência e invisibilidade

Crédito: Freepik

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Todos os dias, são milhares de pessoas que se sentem invisíveis, isoladas mesmo em meio ao caos diário. A solidão pode parecer eterna. E não se está falando apenas de pessoas em situação de rua, cujas faces são ignoradas por quem passa. A cegueira é muito mais ampla e atinge a mãe exausta, a trabalhadora subvalorizada, a idosa esquecida… E é também sobre esse delicado tema que Saramago trata em seu livro “Ensaio Sobre a Cegueira”. Que tal conversar um pouco sobre isso?

A cegueira nossa de cada dia

Quantas vezes você já ouviu casos de mulheres que foram mortas por seus parceiros, filhos que sofriam abusos, idosos abandonados e maltratados ou pessoas sem-teto e repletas de talentos? Sabe o que elas têm em comum? A cegueira coletiva. Elas passam despercebidas pelas outras pessoas, que seguem seus caminhos sem ver, ouvir ou falar. Para Saramago, elas estão cegas:

O egoísmo pessoal, o comodismo, a falta de generosidade, as pequenas covardias do quotidiano, tudo isto contribui para essa perniciosa forma de cegueira mental que consiste em estar no mundo e não ver o mundo, ou só ver dele o que, em cada momento, for susceptível de servir os nossos interesses.

Para conviver de fato, você precisa ver o outro de verdade – e ser visto, não apenas olhar ou simplesmente desviar a atenção. A convivência demanda cuidado, altruísmo, generosidade e coragem para lidar com suas próprias limitações e as do outro. Não que se busque a perfeição, mas, “se não formos capazes de viver inteiramente como pessoas, ao menos, façamos tudo para não viver inteiramente como animais“, determina Saramago.

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Isso inclui o respeito ao que é diferente, amor a quem não é mais “útil” e a ajuda a quem de fato precisa. E o mais importante: perceber o olhar no presente, pois sem ele não há futuro. Atenção! Será que se está realmente prestando atenção ao que acontece, ou a vida está passando como o som monótono e nasalado de um pássaro?

Para Saramago, “já éramos cegos no momento em que cegamos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos“. O medo eterno do julgamento, da escassez, do diferente, do outro, de si… Ele limita, abandona, despreza. Então, “se podes olhar, vê. Se podes ver, repara”. Percebe as sutilezas que a vida insiste em te mostrar e, mesmo que esteja invisível nesse momento, você estará de fato vendo e isso é tão raro quanto importante.

Um pouquinho sobre Saramago

José Saramago é um dos maiores autores contemporâneos, recebendo o Nobel de Literatura e o merecido reconhecimento do mundo diante da sua escrita. De origem humilde, ele nasceu em Portugal, tendo pais agricultores, que migraram para a cidade grande em busca de trabalho. Já em Lisboa, ele pôde ter acesso aos estudos, até quando os pais não puderam mais pagar.

Saramago deixou a escola antes do ensino médio para trabalhar em uma fundição, mas nunca parou de ler e estudar. Se casou e, aos 25 anos, publicou seu primeiro livro. Foi então que começou a trabalhar com traduções de clássicos, tendo uma nova publicação muitos anos depois. Iniciou então a carreira de jornalista e comentarista político, tornando-se um escritor respeitado.

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Com uma escrita única, ele consegue tocar a alma do leitor e fazer com que todas as cores, formas e aromas inundem a mente de quem se entrega. Com pitadas de sarcasmo e reflexões disruptivas, ele é certamente um dos ícones da literatura mundial, sendo o autor de um dos maiores best sellers, “Ensaio Sobre a Cegueira”, que foi adaptado para o cinema. Veja o trailer:

Do que fala o livro

“Ensaio Sobre a Cegueira” conta a história de uma pandemia que fez com que toda a população ficasse com a cegueira branca, exceto uma mulher. Com uma trama densa e cheia de altos e baixos (ok, muitos baixos), a história prende o leitor, bem como leva a um estado de reflexão que pode durar dias.

Saramago sabia como usar as metáforas, sendo brilhante ao longo da história, que se passa praticamente em um confinamento forçado, que se torna rapidamente numa representação caótica do ser humano. É como se fosse uma hipérbole da realidade, mostrando até onde as pessoas podem chegar quando estão cegas.

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“Por que cegamos, não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão. Queres que te diga o que penso, diz, penso que não cegamos, penso que estamos cegos, cegos que vêem, cegos que vendo, não vêem”

Se interessou pela história? Então pode aproveitar para “ler” enquanto faz outras atividades, com esse audiolivo, disponibilizado no Youtube. Sabe o que é mais legal nisso? Você pode aproveitar os olhos livres para ver, reparar…

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