Cólicas abdominais ou queimação no estômago são sintomas comuns no dia a dia, associados a refeições indigestas ou, até mesmo, estresse. Não é o caso da gastroenterite, doença que provoca os mesmos sinais, mas tem causas bastante distintas e pode ser fatal em alguns casos.
A patologia é comum em locais onde não há saneamento básico e atinge principalmente pessoas com imunidade baixa. Veja como se prevenir e tratar o problema.
O que é gastroenterite?
A inflamação do tubo digestivo, que inclui o estômago e o intestino delgado, é caracterizada como gastroenterite. É tida como uma doença autolimitada, ou seja, que se cura sozinha em poucos dias, desde que sejam tomadas as precauções corretas e o tratamento seja seguido à risca, conforme prescrito por um gastroenterologista.
Também conhecida como gripe intestinal ou gripe gástrica, não chega a ser grave em adultos. Porém é perigosa para crianças, pois provoca desidratação desencadeada pela diarreia e pode levar à morte. Além das crianças, idosos, pacientes portadores do vírus HIV e recém transplantados também correm maior risco de serem infectados e debilitados pela gastroenterite.
O problema é uma das causas mais comuns de mortalidade infantil nos países em desenvolvimento: segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS ), mais de 5 mil crianças morrem todos os dias em decorrência de doenças diarreicas.
Causas e tipos da gastroenterite
A gastroenterite pode ser transmitida através de vírus, bactérias, parasitas e até de forma não infecciosa. Cada uma delas tem uma causa, entenda:
Vírus
A causa mais comum, principalmente entre as crianças, é o rotavírus (Rota), que existe em três tipos diferentes – o que explica porque o paciente pode sofrer do mesmo problema mais de uma vez.
Além dele, existem também os norovírus G1 e G2, adenovírus (HAdV), sapovírus (Sapo) e astrovírus (Astro). Como toda doença viral, é mais comum no inverno.
Nesse caso, a transmissão pode se dar de pessoa para pessoa contaminada (principalmente quando dividem o mesmo banheiro, pois o vírus está presente nas fezes e vomito), além de alimentos, bebidas e objetos contaminados.
Bactéria
Alimentos contaminados, principalmente aves, carne vermelha, peixes, crustáceos, moluscos, leite e derivados e ovos, são a principal causa da gastroenterite bacteriana nos países em desenvolvimento.
O problema é comum principalmente durante o verão, quando a comida estraga mais rápido. Tábuas, facas e demais utensílios de cozinha contaminados também podem infectar um alimento bom.
As bactérias mais comuns são a Salmonella, Campylobacter coli e jejuni, Clostridium difficile (presente na flora intestinal), Shigella spp, Escherichia coli e Yersinia enterocolítica.
Parasita
Os protozoários Giardia lamblia, Entamoeba histolyca e espécies de Cryptosporidium podem provocar gastroenterite, embora os casos de infecção parasitária correspondam a menos de 10% e ocorram principalmente em países em desenvolvimento ou que enfrentam desastres ambientais.
Não-infecciosa
Algumas toxinas, como a presente nos peixes baiacus, alimentos com glúten, lactose ou soja para intolerantes e medicamentos anti-inflamatórios não esteroides também podem provocas a gripe gástrica. No entanto, esses casos são mais raros.
Sintomas da gastroenterite
Os primeiros sinais se manifestam entre um e três dias após a infecção e incluem:
- Diarreia
- Náuseas e vômitos
- Dores e cólicas abdominais
- Febre
- Apatia e fraqueza
- Mal estar
- Dor no corpo
- Perda de apetite
Vale frisar que a diarreia, quando não tratada, provoca desidratação severa, principalmente entre os pacientes mais frágeis, o que pode levar à morte em poucos dias.
Como diagnosticar gastroenterite
Por se tratar de sintomas comuns a doenças estomacais e intestinais, a gastroenterite é facilmente diagnosticável e raramente exige exame específico.
Porém, dependendo do estágio, é necessário avaliar o grau de desidratação do paciente, que se for muito alto pode evoluir para algo mais grave. Em casos de vomito ou fezes com sangue, febre muito alta e dores severas é necessário realizar um exame mais completo.
Independente da gravidade e da doença ser autolimitada, não deixe de consultar um médico ao perceber os sintomas. Só um profissional será capaz de dar o diagnóstico correto e oferecer a melhor opção em tratamento, além de avaliar se o caso é severo ou não.
Tratamento e prevenção da gastroenterite
A reidratação oral é o primeiro ponto para lidar com a gastroenterite, tanto com água quanto soros caseiros e produtos à base de hidratos de carbono. Dependendo do grau da doença é necessário administração intravenosa.
Bebidas com muito açúcar não são recomendadas, pois podem agravar a diarreia. Antiemeticos ajudam a “cortar” o vômito, assim como medicamentos antidiarreicos; antibióticos são prescritos apenas em casos de infecções mais graves.
Se suspeitar de gastroenterite jamais se automedique! Hidrate-se normalmente até consultar um médico e aguardar a prescrição.
Mudanças de hábitos são a melhor forma de prevenir o problema e incluem:
- Preservar e armazenar alimentos crus a temperaturas abaixo de 4ºC e alimentos quentes acima de 6ºC;
- Higienizar bem as mãos após usar banheiros, saunas e piscinas públicas e antes de preparar alimentos;
- Lavar frutas, verduras e vegetais em água corrente antes de consumir;
- Evitar contato com pessoas infectadas ou suspeitas de infecção;
- Lavar as roupas e objetos pessoais de pessoas infectadas em água quente e separado dos demais;
- Evitar locais públicos e de aglomeração em períodos de epidemia;
- Não consumir carne crua;
- Vacinação anti rotavírus para crianças e verificação de vacinas antes de viajar para países em desenvolvimento;
- Desinfetar com álcool gel superfícies e objetos que possam estar contaminados.
Dica: O que comer?
É essencial que o paciente se alimente bem para ter uma recuperação completa, e de início as refeições podem ser fracionadas e em menor quantidade até que ele se sinta disposto para voltar à rotina alimentar.
Dê preferência para comidas de fácil digestão e com nutrientes, como frango cozido, arroz, purê de batata ou batata cozida, iogurtes, sopas e cremes. Pode fazer ingestão de alguns probióticos.
Frutas como banana, uva, maçã e pera podem ser consumidas amassadas. Verduras e legumes são bem-vindos, mas com moderação, para não piorar a diarreia. Fuja de fibras!
Alimentos ricos em açúcar e gorduras devem ser banidos durante o período de recuperação da gastroenterite.