Se você assistiu às novelas Bambolê, Roda de Fogo e a primeira versão de TiTiTi, nos anos 1980, deve se lembrar do ator Paulo Castelli, que era um dos galãs da televisão na época. Paulo viveu a fama cercado por fãs que o reconheciam na rua, sendo convidado vip em festas e concedendo entrevistas para as revistas.
“Comecei a trabalhar como ator muito jovem. Atuei por mais de 20 anos. Quando fui para TV a minha carreira tomou outra proporção. Lembro de uma ocasião em que não achei vaga dentro do estacionamento da emissora, e deixei o carro na rua. Quando desci do carro, uma multidão foi me cercando. Eu não conseguia mais andar e atravessar a rua. Pensei: ‘Meu Deus, o que é isso?’. Os seguranças da emissora foram me ajudar porque tinha gente querendo puxar até meu cabelo (risos). Nos bailes de debutante também era bem complicado. Havia uma certa histeria”, relembra Paulo, em uma entrevista concedida à Revista Quem.
Lidar com a fama e o assédio das pessoas não é fácil como pode parecer. Na época, Paulo decidiu começar a fazer terapia para ser capaz de levar uma vida equilibrada apesar da fama, e foi assim que ele começou a tomar gosto por essa área profissional.
“Comecei a me sentir angustiado com a mudança e a exposição. Precisei do atendimento de um psicólogo para conseguir lidar com aquilo tudo e com o assédio. Toda a pessoa que se envolve muito com a mídia, seja ator, cantor ou influenciador, precisa fazer terapia para voltar à sua verdadeira posição, para não se perder e não achar que é um pouco mais que um ser humano. Quando a pessoa começa a se achar, ela comete erros que podem prejudicar até sua carreira. É bom ter alguém capacitado para trabalhar a ansiedade e a carência que as pessoas jogam em você”, explica.
E foi assim, fazendo terapia, que Paulo se apaixonou pela psicologia. Aos poucos ele foi parando de atuar, fez faculdade de psicologia Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e parou de vez com a carreira de ator em 1990 para se dedicar à nova profissão.
“Não houve tomada de decisão e passagem. Não tenho nenhuma queixa da profissão de ator. Foi uma época muito especial. A carreira como psicólogo foi se constituindo na minha vida. Comecei ajudando um amigo na clínica, mas como um hobby. Ainda era contratado da Globo. O trabalho na clínica foi me fascinando e abrindo um novo mundo. Acabei fazendo vestibular para a PUC em São Paulo. Eu morava no Rio e fazia o bate e volta para conciliar os estudos com as gravações.”
Atualmente Paulo está com 64 anos, é um psicólogo especializado em geriatria e proprietário um hotel e residência para idosos em Barueri chamado Solar Ville Garaude, que administra com sua mulher, a Dra. Sandra Maria Garaude Greven, com quem ele tem três filhas e uma neta.
“Depois do mestrado em gerontologia, comecei a abraçar mais a causa do idoso. Sou diretor social do Solar e faço todo o trabalho de social para que as pessoas se sintam bem. Resolvo conflitos, converso com hóspedes que não estão saindo do quarto para fazer com que eles retomem a socialização, organizo as atividades físicas e intelectuais… Por meio do trabalho de ator, as pessoas me encheram de carinho. Como psicólogo senti que essa relação de carinho com o outro ficou ainda mais sólida. É lindo poder ajudar as outras pessoas. Muitas pessoas chegam aqui deprimidas, distantes e sem conexão com a realidade, mas se encontram novamente. Rejeitamos o nome ‘casa de repouso’. Aqui é um local de renovação, de mostrar seus talentos… Uma senhorinha voltou a tocar violino aqui após anos sem ter contato com o instrumento.”
Ao ser perguntado sobre a saudade de ser ator, Paulo diz que tem um pouco, mas não se arrepende da escolha que fez.
Era muito gostoso e divertido fazer teatro, TV, cinema, apresentações pelo Brasil, desfilar como modelo, fazer bailes de debutante… Tenho lembranças ótimas. Ao mesmo tempo que tenho saudade e não tenho nenhuma queixa como ator, se alguém me perguntasse se eu gostaria de voltar a atuar, diria que estou envolvido com outros desejos agora.