Antes da pandemia, a vida de Dona Terezinha, 92 anos, e seu Osvaldo, 93 anos, era muito diferente. Eles costumavam receber amigos e familiares com muita frequência em sua fazenda, localizada na zona rural de Canaã, cidade mineira com cinco mil habitantes.
Porém, desde fevereiro, o isolamento social fez com que a rotina deles mudasse, e para pior, por conta da solidão. A neta do casal, Isis Medeiros, que é fotógrafa e documentarista, resolveu então dar vida ao projeto Histórias do Meu Quintal, que retrata a nova rotina dos avós.
“O que mais me chamou a atenção foi como o isolamento e a pandemia afetaram a vida dos meus avós. É mais a questão do afeto mesmo, porque eles costumam receber muitas pessoas. E eles ficaram muito sentidos com a falta de visitas dos familiares, das pessoas que eles gostam. Isso trouxe uma tristeza muito grande”, contou Isis.
Com um olhar cheio de sensibilidade e afeto, Isis documentou momentos pessoais dos avós em casa, retratando a face da pandemia na vida de quem é considerado grupo de risco e precisa se manter longe das pessoas para se proteger.
“Dona Terezinha, que antes recebia com frequência os familiares, vizinhos e amigos aos finais de semana, agora só recebe visitas pela janela da fazenda centenária onde nasceu e passou toda vida“, descreve a neta.
As fotos da neta se tornaram um lindo material que deverá ser publicado em outubro pelo Instituto Moreira Salles.
“Dona Terezinha está acostumada com fartura, casa cheia e a cozinhar com os alimentos que produz no quintal. Tem sentido falta de fazer panelas cheias e servir nos almoços aos finais de semana. Há seis meses se mantém isolada na fazenda onde nasceu”, registrou a neta.
Mesmo antes da pandemia, Isis já tinha essa ideia de documentar a vida dos avós na fazenda para eternizar tantos momentos únicos da relação dos avós com as visitas, os vizinhos e com a terra.
Agora, com o isolamento, a neta resolveu permanecer na fazenda para cuidar deles, estreitar os laços, e viu a oportunidade de fazer esse material, porém apenas com os dois, em uma atmosfera que expressa os sentimentos do momento atual.
“Osvaldo passa horas do dia sentado contando histórias e falando da saudade das filhas e netos que não os visitam desde fevereiro. Sua maior companhia é a cachorrinha Nina, com quem passa maior parte do tempo junto”, contou Isis.
A família sempre foi grande. Juntos há 70 anos, dona Terezinha e seu Osvaldo tiveram oito filhas, e por isso estavam acostumados a muita fartura e casa cheia. Com a pandemia, chegou a tristeza, a melancolia e seu Osvaldo teve um AVC que resultou em 10 dias de internação.
“Ele não tem nenhum sinal de depressão, mas esta tristeza pode ter piorado a situação dele, sim. A solidão é o assunto mais recorrente entre eles. O maior medo dela é a solidão, o maior medo dele é a morte”, contou a neta.
Crédito das imagens: Isis Medeiros