Uma nova pesquisa realizada pelo Grupo de Resposta à Covid-19, do Imperial College de Londres, chegou à conclusão de que a estratégia sugerida pelo presidente Jair Bolsonaro, de manter apenas os idosos em isolamento, incentivando todo o restante da população a voltar à rotina normal, é muito perigosa.
De acordo com o estudo, se o Brasil adotar a mesma medida de outros países que estão incentivando a quarentena para todas as pessoas, e oferecendo subsídios que o governo tem condições do prover para que todas as famílias fiquem em casa com mais tranquilidade, o número de mortes após a pandemia pode ficar em torno de 44 mil.
Porém, se as medidas propostas pelo presidente forem adotadas, mantendo apenas os idosos em isolamento, o número de mortes tem todas as condições de subir para 529 mil, em média.
Afinal de contas, a exemplo de outros países como Estados Unidos, Reino Unido, Itália e Espanha, negligenciar a rapidez de contágio do vírus e a parcela da população que é atingida por ele, é ver o número de mortes crescer exponencialmente a cada dia.
O estudo da Imperial College não foi feito apenas para o Brasil, é claro. E foi exatamente o resultado espantoso desse estudo que fez o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, recuar na ideia de isolar apenas determinados grupos de pessoas, como idosos e pessoas com doenças crônicas. Também, foi este estudo que incentivou os Estados Unidos a modificarem suas medidas de isolamento social.
Enquanto isso, no Brasil, o presidente continua a bater de frente com todas as orientações da Organização Mundial de Saúde, o exemplo de todos os demais países e as regras determinadas pelo seu próprio Ministério da Saúde para a prevenção da covid-19.
O estudo
A pesquisa realizada pela Imperial College, que foi divulgada no dia 26/03/2020, comparou os possíveis impactos sobre a mortalidade de pessoas em 202 países, com base em fatores como abrandar a necessidade de distanciamento social e a ausência de intervenções.
A base para a pesquisa foram dados da China e de países com alta renda. Isso quer dizer que a situação pode ser ainda pior para os países mais pobres. No caso do Brasil, a pesquisa mostrou que se fosse feita uma ação imediata de isolamento total da população, poderiam ocorrer, ainda assim, uma média de 44 mil a 206 mil mortes.
Esse número não é aceitável, pois nenhuma vida é menos importante que a outra. No entanto, se a quarentena fosse negligenciada, mantendo apenas os idosos em isolamento, este número poderia subir para 529 mil. E se, ainda pior, nenhuma medida fosse tomada, permitindo que todos voltassem às atividades normais em plena pandemia, o número de mortes, somente no Brasil, poderia chegar a 1,15 milhão.
O estudo não está levando em consideração todo o impacto social e econômico desse confinamento em massa e imediato. Porém, quanto antes esta medida for tomada, mais fácil será de atender as pessoas que necessitam de internação, e mais rápido será feito o controle da disseminação do vírus.
Ou seja, se todos ficarem em casa por um período curto-médio de tempo, mais rápido será possível voltar à rotina normal. Enquanto isso, é obrigação do governo utilizar seus fundos para prover os subsídios que a população (incluindo pequenos e médios empresários) possa estar em casa sem desespero de falência ou medo do acúmulo de dívidas.