No dia 25 de junho de 1997, na comunidade do bairro Padre Andrade, periferia de Fortaleza, nasceram os gêmeos idênticos Gabriel e Tomaz. A mãe, dona Liduina, era uma mulher muito pobre, que já sabia não ter condições de cuidar das suas crianças.
Com dor no coração, ela e o marido resolveram dar um dos meninos para adoção, pois queriam vê-lo feliz e saudável com uma família que pudesse oferecer-lhe uma vida melhor. Assim, também seria mais fácil cuidar do outro menino.
Porém, dizem que gêmeos possuem uma ligação única e especial. Depois de 15 dias separado do irmão, o menino que ficou com a mãe começou a apresentar vários problemas de saúde.
Dona Liduina não tinha recursos para cuidar da saúde do pequeno, e foi quando decidiu que seria melhor para ele que também fosse adotado por uma família com melhores condições de vida.
Tomaz foi adotado por Socorro e permaneceu morando em Fortaleza. Já Gabriel foi morar em Uberaba, Minas Gerais, com a mãe Vanda. As famílias que os adotaram nunca esconderam a verdade: eles sabiam que eram gêmeos e que tinham sido adotados.
Mas, desde essa separação ao nascimento, Gabriel e Tomaz nunca mais souberam um do outro, e não tinham qualquer informação para se encontrarem, pois não sabiam nome, sobrenome nem conheciam pessoas em comum. Ao longo dos anos, ambos viveram com um vazio no peito.
Quando Tomaz tinha 16 anos de idade, ele recebeu uma foto do irmão gêmeo, em seu aniversário de 1 ano de idade. Essa foto foi entregue pela mãe biológica, que ele conheceu com essa idade, já que moravam na mesma cidade. A foto (acima) tinha sido dada para Liduina pela mãe adotiva de Gabriel. Aquele momento foi intenso para o jovem:
“Nos encontramos na minha casa. Foi bem forte pra mim, pois foi a primeira vez que eu vi alguém tão parecido comigo. Ganhei dela dois presentes: o nome e a foto do aniversário de um ano do meu irmão, que ela recebeu da pessoa que o levou. Ela foi muito importante nessa busca, por me dar nome e rosto de quem estava com ele”.
Mesmo com a foto em mãos, Tomaz não sabia como fazer para encontrar o irmão, e ele vivia angustiado para saber se estava tudo bem com seu gêmeo. “Não consigo mensurar as vezes que busquei. Todas as minhas buscas foram por rede social, mas nunca conseguia encontrar. Virava noites na ferramenta que, para mim, era a mais fácil, a mais acessível, a internet”.
Gabriel, lá em Minas Gerais, sequer tinha uma foto para poder olhar e imaginar como estaria seu irmão na adolescência. Ele tinha até ouvido um boato de que Tomaz havia morrido aos 12 anos de idade, mas nunca acreditou:
“Essa informação foi para mim extremamente irrelevante, pois toda vez que eu pensava nele, eu sentia sua vida em mim”, recorda. “Fiz muitas tentativas de encontrá-lo. Porém, todas foram de grande frustração, pois eu não sabia nada da minha família genética, e tão pouco de meu irmão. Não sabia seu nome, onde estava, se foi adotado, quem o adotou. Então, sempre foi muito difícil pra mim conseguir encontrar ele, mas nunca impossível”.
Uma descoberta maravilhosa
No dia 1º de junho de 2020, Tomaz estava mais uma vez pensando em como poderia encontrar seu irmão, e foi então que veio uma ideia: na foto que ele tinha do aniversário de 1 ano de Gabriel, estava o nome da mãe adotiva dele. E foi por meio dessa informação que Tomaz conseguiu encontrar Vanda no Facebook.
“Meu coração parecia saltar do peito, eu suava, até que vendo as fotos dessa senhora, me encontrei, me vi numa imagem com um senhor, do lado de um fusca. Eu entrei em pânico, pois não acreditava que aquilo estava acontecendo e que eu era tão parecido com ele. E ele comigo”, relatou Tomaz.
Através de uma policial civil Tomaz conseguiu entrar em contato com Vanda. Ela, emocionada, ligou para Gabriel, que estava no trabalho, e a partir daquele momento Gabriel se sentiu completamente diferente.
“Para mim, foi um grande choque, tive que me sentar e parar para raciocinar o que estava acontecendo. Minha cabeça ficou a um milhão e eu não conseguia acreditar nisso. Entrei em contato com ele pelo Facebook, e fomos para o Whatsapp”, relatou.
A primeira chamada de vídeo dos gêmeos foi no intervalo do trabalho de Gabriel.
“Não sabíamos o que fazer, e nem o que falar um para o outro. Ficamos chocados com a nossa semelhança e confesso que estava um pouco assustado com ela. Mas foi um misto de sentimentos tão grande que eu me sentia anestesiado e com uma paz interior, um alívio enorme, e surpreso por ter acontecido tão cedo”.
Desde o dia 1º de junho os irmãos passaram a ficar horas conectados pelo WhatsApp para se atualizarem sobre a vida um do outro. Descobriram várias coisas em comum, como o interesse pela fotografia, pelo leite com Nescau toda noite, o amor pela natureza e até um acidente que sofreram em 2018.
Nesse tempo, eles também conseguiram fazer uma chamada por vídeo com a mãe biológica, e dizem ser gratos por ela ter se preocupado o bastante com a vida deles a ponto de entregá-los a outras famílias com melhores condições.
Ansiosos para poderem se encontrar, os gêmeos sabiam que precisavam ter paciência por causa das restrições da quarentena. Mas, não demorou para que o tão esperado encontro ocorresse.
Tomaz resolveu preparar uma surpresa para Gabriel, com a ajuda de Carol, esposa do irmão. Ele comprou passagem para Uberlândia no dia do aniversário deles, que foi no dia 25 de junho. Carol disse para Gabriel que ela e um amigo precisavam de ajuda com um trabalho freelancer de fotografia, e eles deveriam ir para o aeroporto.
“Eu saí de Fortaleza 14h50. O voo teve duas escalas, uma em Recife e uma em Campinas. De lá, peguei outro avião para Uberlândia. Eu acho que o mais demorado foi esse de Campinas para Uberlândia, porque foi quando a ficha começou a cair. Esse voo durou uma hora, mas pra mim foi uma eternidade”, recorda Tomaz.
Ao chegar no saguão do aeroporto, Tomaz viu que lá estavam Carol, o amigo Jean e o irmão Gabriel, de costas: “Quando eu passei pela porta, ele estava de costas, conversando com o amigo, e não percebeu a minha chegada. A Carol falou pra ele: ‘Gabriel, quem é essa pessoa que tá atrás de você?’ E aí ele virou. Quando ele virou, não reconheceu de imediato. Ficou alguns segundo sem entender e só depois é que caiu a ficha”.
Depois de tanta espera, angústia e ansiedade, até o momento esse foi, com certeza, um dos momentos mais importantes da vida desses irmãos.
“Eu não consigo explicar a sensação do abraço em um irmão que até então eu só tive contato na barriga, que eu só pude estar junto na barriga. Foi algo mesmo imensurável. Eu não consigo dizer qual a sensação, a troca de energias que aconteceu, mas foi lindo, está sendo lindo”, conta Tomaz.
