Foi em uma escola que trabalhava com a proteção de meninas em situação de risco, no Chile, que surgiu termo desprincesamento. Uma psicóloga e uma socióloga, com o objetivo de fortalecer a educação das meninas para que se tornassem mais independentes, corajosas e destemidas, criaram oficinas de várias atividades menos “femininas” e passaram a questionar o estereótipo das princesas.
Quando se chama uma menina de princesa e um menino de príncipe, existe por trás desses elogios todo um estereótipo de gênero pautado no machismo. As princesas devem ser delicadas, fisicamente bonitas dentro dos padrões, submissas, recatadas e dependentes de um homem. Já os príncipes devem ser bravos, valentes, vencedores, fortes, fisicamente bonitos e capazes de defender as princesas, sem demonstrar medo.
As crianças assistem a esses comportamentos de príncipes e princesas em diversos filmes e desenhos, e ouvem nas histórias de livros infantis. Mas, ainda que tentem reproduzir esse comportamento para se sentirem aceitas, não significa que estejam à vontade com isso. O resultado é desastroso: jovens cheios de bloqueios e adultos que não se aceitam como realmente são.
Então, se você é pai ou mãe que está preocupado em preparar seu filho e filha para o mundo real, está na hora de desprincesar as crianças para que elas sejam livres para se expressar, tenham a autoestima elevada, inteligência emocional e independência para seguirem o próprio caminho.
Como desprincesar os filhos?
Uma educação baseada no desprincesamento deve acontecer todos os dias, com a atenção dos pais aos detalhes para que aproveitem os momentos em que surge o estereótipo de gênero e conversar com a criança sobre isso, em uma linguagem simples, de acordo com a capacidade de entendimento dela.
Desprincesando os desenhos e filmes clássicos
Uma das formas eficazes de trabalhar o desprincesamento com as crianças é aproveitar a oportunidade de desconstruir os estereótipos de príncipes e princesas quando as crianças estiverem assistindo a um filme ou desenho clássico, já que é quase inevitável que elas tenham acesso a esse conteúdo.
Quando surgir a princesa frágil e delicada à espera do seu príncipe, você pode comentar que ela poderia se livrar daquele medo sozinha, porque ela tem coragem para isso e não precisa esperar pelo príncipe.
Quando surgir um príncipe sendo obrigado a ir para uma batalha que ele não quer, você pode comentar que ele deveria escolher fazer o que quiser, pois é mais importante ele realizar seus sonhos.
Oferecendo conteúdo que desconstrói os padrões
Atualmente, a Disney, responsável pelos principais clássicos de estereótipos de gênero, está criando filmes com personagens “desprincesadas”, como a Merida, Elsa e Moana. Além de incentivar que sua filha e seu filho vejam esses filmes, promova um bate-papo com eles depois do filme para dialogar sobre os rótulos de gênero.
Brinquedos para todos
Mais uma forma de incentivar o desprincesamento é deixar que meninos e meninas brinquem do que quiserem. Não existe brinquedo e brincadeira de menino e de menina. A liberdade para escolher do que brincar é essencial para os pequenos entenderem que podem fazer o que seu coração mandar, sem serem julgados por isso.
Cuidado com o que diz em casa
Além das referências em filmes, desenhos e brincadeiras, também é preciso desconstruir os padrões de gênero machistas que você tem e nem percebe. Como você, possivelmente, foi criado em um universo com ideologias de gênero, se acostumou a ouvir e dizer coisas como:
- Essa menina vai dar trabalho para o pai quando crescer!
- Prende sua cabra porque meu bode está solto.
- Já sabe cozinhar, já pode casar!
- Você é tão bonita, pode casar com quem quiser.
- Pare de chorar, parece uma menina!
- E os namoradinhos?
- Essa roupa não é adequada pra uma menina como você.
- Mulher tem que se cuidar.
- Seja mais delicada, você é uma menina!
- Seja corajoso como um homem!
Preste atenção e procure evitar esses tipos de comentários que você diz em casa ou que as pessoas próximas dizem na frente das crianças. Sim, pode ser que você compre algumas discussões com pessoas que defendem o machismo e a ideologia de gênero. Mas, é assim, aos poucos, que a sociedade vai mudando e você ajuda a construir uma nova geração mais livre e realmente feliz.