Você consegue imaginar como viveria hoje em dia um rei de antigamente? De que modo ele teria que adaptar suas regalias para manter-se poderoso, mesmo não tendo mais uma coroa para ostentar?
Bem, isso depende de que rei está se falando, pois no caso de D. João V, certamente ele não teria problemas em continuar sendo o garoto rico, mimado pela tia-avó e mulherengo que tinha a fama de ser em 1706, quando subiu ao reinado, ainda bem jovem.
João Francisco nasceu em 22 de outubro de 1689, em Lisboa, e foi o segundo filho do rei Pedro II e da sua segunda esposa Maria Sofia de Neuburgo. Porém, foi criado pela tia-avó Catarina de Bragança, rainha-consorte de Inglaterra, que engravidou três vezes e três vezes sofreu abortos. O menino João Francisco foi o filho que ela nunca teve, e por isso recebeu todos os mimos que uma criança poderia querer na vida.
O Rei-Ostentação
Por conta da incontável fortuna que herdou e do tratamento que recebeu da tia-avó, D. João não tinha vergonha alguma de mostrar a todos o quanto tinha uma boa vida. Não houve rei mais rico, que também tinha bastante criatividade para usar o dinheiro em benefício do país e, claro, de si próprio.
Parte da fortuna de D. João veio quando ele já era rei e foi descoberto que o subsolo brasileiro era rico em ouro, diamantes e pedras preciosas, o que levou muitos portugueses a abandonar o país rumo à América Latina. Mas eles ainda nem estavam no meio da viagem e D. João V já tinha inventado um imposto.
O “quinto” – como se chamava o imposto – obrigava que 20% de toda a riqueza extraída no Brasil viesse parar nas mãos da Coroa Portuguesa. O imposto já existia, como lembra o historiador João Ferreira, mas nunca nenhum rei tinha tido a ideia de o usar com um material tão valioso.
Se vivesse atualmente, com toda essa riqueza, certamente D. João faria lembrar um certo presidente dos EUA, que um dia mandou forrar as paredes da Casa Branca com ouro. Foi por essas e outras que ele ganhou o apelido de O Magnânimo.
Um mulherengo de primeira linha
Assim como era mimado e adorava ostentar sua riqueza, D. João não fazia questão de esconder sua paixão pelas mulheres, de preferência pelas freiras e, quase nunca, pela própria esposa.
Nesse sentido, talvez hoje em dia ele não fosse visto com bons olhos, isso se algum de seus casos com as freiras viralizasse na internet. Mas, na época, ele se deu bem. O caso mais conhecido que ele teve foi com Madre Paula, com quem teve alguns filhos.
João Francisco não perdia uma missa, não falhava uma procissão. Mas do que ele gostava mesmo quando se metia num convento não era de orar.
Sem vergonha dos filhos que fazia fora do casamento, ele assumiu três, só um da Madre Paula: D. António, D. Gaspar e D. José (de Paula), que ficaram conhecidos como os “Meninos de Palhavã”, pois D. João V destinou-lhes um imenso palácio, o Palácio de Palhavã, em Lisboa, onde é hoje a Embaixada da Espanha. Na época, quando Lisboa era muito menor do que é hoje, o Palácio ficava numa zona considerada rural e fora da capital.
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A única filha legítima
Tantos foram os filhos fora do casamento de D. João, que ele precisava, mesmo contra vontade, tentar fazer um filho legítimo com sua esposa, D. Maria Josefa da Áustria, para que fosse descendente do trono. Pois bem, eles tentaram, e foi um sacrifício, segundo a descrição de José Saramago, a seguir.
Sobre a falta de intimidade do casal: “Entraram com o rei dois camaristas que o aliviaram das roupas supérfluas, e o mesmo faz a marquesa à rainha, de mulher para mulher, com ajuda doutra dama, condessa, mais uma camareira-mor não menos graduada que veio da Áustria, está o quarto uma assembleia, as majestades fazem mútuas vénias, nunca mais acaba o cerimonial, enfim lá se retiram os camaristas por uma porta, as damas por outra, e nas antecâmaras ficarão esperando que termine a função”.
Sobre a mulher submissa, cujo único papel é o de engravidar: “Adormece no meio duma ave-maria cheia de graça, ao menos com essa foi tudo mais fácil, bendito seja o fruto do vosso ventre, ao menos um filho, Senhor, ao menos um filho”.
Saiu uma filha, Maria Bárbara. E D. João V ficou desiludido por não ser um homem. Hoje em dia, talvez ele não fosse sentir tamanha necessidade de um filho homem com a esposa, pois não teria a obrigação de passar a coroa. Mas, certamente teria muitas pensões a pagar para tantos outros meninos que fez pela cidade, e ainda arcar com a fama de mulherengo nas redes sociais.
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