Na manhã de quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022, milhares de cidadãos ucranianos foram acordados com barulho de explosões e intenso bombardeio: deu-se o início da invasão da Rússia à Ucrânia. A ação acontece após semanas de intensa diplomacia e imposição de “ameaças” ocidentais à Rússia – medidas que não conseguiram impedir o presidente Vladimir Putin de autorizar a “operação militar especial” no leste. Os ataques reúnem entre 150.000 e 200.000 soldados ao longo das fronteiras da Ucrânia. Entenda mais sobre esse conflito, que muitos especialistas acreditam ser o desencadeamento da III Guerra Mundial.
Guia simples para entender a crise entre Rússia e Ucrânia:
1- Qual o contexto histórico por trás do conflito?
Até 1991, a Ucrânia fazia parte do império russo e só passou a ser uma república independente quando a União Soviética se desfez. Livre do domínio russo, a Ucrânia começou a criar laços cada vez mais estreitos com o Ocidente, em detrimento de continuar uma parceria política com o Kremlin. Em resposta, a Rússia incorporou permanentemente o território da Crimeia, apoiando uma rebelião separatista que eclodiu no leste da Ucrânia.
Em meio às tensões com a Rússia, a OTAN enviou reforços para a Europa Oriental, o que fez com que Putin criticasse duramente os Estados Unidos e a OTAN. Segundo o presidente russo, ao fornecerem ajuda à Ucrânia, os encorajavam a tentar recuperar os territórios controlados pela Rússia. Foi o estopim para que Vladimir Putin classificasse a Ucrânia como “marionete dos EUA”.
2- O que é OTAN e por que ela é o ponto central de discórdia?
A OTAN é uma aliança militar estabelecida em 1949 pelos Estados Unidos, Canadá, França, Reino Unido e mais 8 países europeus. Hoje, 30 nações fazem parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte. Os países-membros unem forças em termos políticos e militares, garantindo a segurança de forma diplomática ou com o uso de força. As aspirações da Ucrânia de ingressar na OTAN são uma ameaça a Putin, que vê na aliança a possibilidade de a OTAN estabelecer centros de treinamento militar na Ucrânia.
3- Qual a intenção de Putin com a invasão?
A Rússia exige o fim da expansão da OTAN para o leste europeu, principalmente perto da fronteira com a Rússia, e rejeita a adesão da Ucrânia à aliança militar liderada pelos EUA. Ao reconhecer duas regiões separatistas como independentes (Donetsk e Lugansk), Putin ordenou o envio de “forças para manutenção da paz”, um movimento que o Ocidente entendeu como o início de uma invasão.
O bombardeio desta quinta-feira se deu após Putin declarar que a ação militar tinha o objetivo de se defender contra ameaças provenientes da Ucrânia. Mísseis russos atingiram várias cidades ucranianas, incluindo a capital Kiev, e cerca de 200 mil soldados russos ocupam as fronteiras do país. Além da ofensiva aos centros de comando militar, também foram registrados ataques cibernéticos ininterruptos.
O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky declarou lei marcial (que acontece quando quando uma autoridade militar toma o controle da administração ordinária da justiça) e apelou aos líderes mundiais que imponham todas as sanções possíveis à Rússia e a Putin. “Se eles tentarem tirar nosso país de nós, nossa liberdade, nossas vidas, a vida de nossos filhos, nós nos defenderemos”, disse Zelensky em discurso oficial.
4- Quais as possíveis consequências desse conflito?
Estima-se que a invasão possa causar cerca de 50.000 mortes de civis e militares e uma grande debandada de ucranianos para os países europeus, fugidos da guerra.
Como represália, a Rússia pode ser cortada da maioria das transações financeiras internacionais, incluindo lucros da produção de petróleo e gás, que correspondem a mais de 40% da receita do país. Os EUA podem, ainda, bloquear o acesso da Rússia ao dólar americano. Tais medidas parecem não assustar Putin, que conta com mais de US$ 600 bilhões em reservas cambiais e de ouro, que podem ser usadas para sustentar a moeda russa e amortecer o choque das sanções.
A perspectiva de uma guerra representa uma ameaça imediata para a economia global, que mal se recuperou dos efeitos da pandemia. O preço do gás natural aumentou, as bolsas de valores despencaram, dólar e ouro dispararam, o barril de petróleo ultrapassou US$ 100 pela primeira vez desde 2014, o preço dos alimentos deve subir em todo o mundo. Sem dúvidas, é a maior crise na Europa desde a II Guerra Mundial.