Em entrevista ao MailOnline, a britânica Gemma Brown, de 38 anos, disse que seu filho, Bertie, de 2 anos, foi internado no Hospital Real de Worcestershire, em março, com febre superior a 40°C. O menino já apresentava umas manchas avermelhadas por todo o corpo, mas naquele momento elas começaram a ficar mais escuras, o que deixou a mãe ainda mais preocupada.
A princípio, os médicos ficaram com muitas dúvidas sobre a causa dos sintomas. Mas um profissional mais experiente diagnosticou a criança com uma rara doença de Kawasaki, que é uma forma de síndrome do choque tóxico que faz com que o sistema imunológico do corpo ataque seus próprios órgãos.
Mesmo em meio à pandemia do coronavírus, o menino não foi testado, e então também ficou no ar a dúvida se aquela síndrome poderia estar relacionada ao covid-19.
Porém, já no final do mês de abril, os médicos do Reino Unido resolveram emitir um alerta à população, pois Bertie era apenas um entre vários casos de crianças internadas em UTI com esta síndrome inflamatória nas últimas 3 semanas.
Não se sabe ao certo o número de crianças afetadas pela síndrome, mas elas reagem de formas diferentes. Uma delas precisou ser reanimada, pois começou a ter falhas no coração e pulmões. De modo geral, as crianças têm menos de 5 anos de idade.
No caso de Bertie, a mãe contou que ele precisou receber uma transfusão de imunoglobina e ficou internado por cinco dias. “Foi horrível vê-lo assim”, disse ela.
Gemma, a mãe do menino, também contou que ele não teve nenhum problema respiratório, mas foi internado sozinho em uma enfermaria. As manchas por todo o corpo começaram a coçar, deixando o menino muito incomodado, e a febre estava alta.
O que a mãe também contou, e que é um ponto importante a ser levado em consideração, é que Bertie nasceu prematuro, com apenas 1,5 kg, e que sempre teve um sistema imunológico fraco, tornando-o suscetível a vírus.
Depois do tempo hospitalizado, o menino melhorou e foi para casa, mas sem receber o teste de coronavírus, o que manteve a dúvida sobre a relação entre a síndrome e o covid-19.
O que os médicos estão descobrindo
O secretário de saúde disse à mídia que ainda não tinham respostas sobre essa relação, pois muitas das crianças que foram internadas com a mesma síndrome foram testadas para covid-19 e o resultado foi negativo. Por outro lado, também afirmou que todos os jovens e crianças que já tinham falecido por covid-19 possuíam outras condições de saúde subjacentes.
Mais recentemente, os médicos emitiram mais um alerta de que havia outros casos de internação infantil com a síndrome inflamatória na Grã-Betanha e na Itália.
A doença é uma condição que causa inflamação nas paredes dos vasos sanguíneos e afeta principalmente crianças menores de cinco anos.
Existem aproximadamente oito casos para cada 100.000 crianças no Reino Unido e as estatísticas mostram que é fatal em 3% dos casos que não são tratados.
O que se acredita, então, é que alguns dos novos casos de covid-19 acontecem em crianças que já têm a síndrome inflamatória e o vírus faz os sintomas da síndrome começarem a aparecer, como uma complicação.
As crianças atendidas com essa síndrome geralmente sofrem de dor de estômago, inflamação cardíaca e sintomas gastrointestinais, que podem incluir vômitos e diarreia.
O professor chefe de medicina, Chris Whitty, disse, em uma coletiva de imprensa, que é “totalmente plausível” que esse pico de síndrome inflamatória esteja relacionado ao surto de covid-19. Ele acrescentou:
“Porque sabemos que em adultos que, naturalmente, têm muito mais doenças do que crianças, grandes problemas são causados por um processo inflamatório e isso parece um processo inflamatório, um processo bastante diferente. Portanto, dado que recebemos uma nova apresentação disso ao mesmo tempo com uma nova doença, a possibilidade de que haja um vínculo é certamente plausível.”
O diretor médico do NHS, professor Stephen Powis, enviou um alerta a seus especialistas, instruindo-os a detalhar o número alarmante de crianças com a síndrome.
De acordo com o alerta, que foi originalmente compartilhado com os médicos de clínica geral no norte de Londres, as crianças afetadas exibem sinais semelhantes à síndrome do choque tóxico (TSS), uma doença grave associada a infecções e tem marcadores sanguíneos alinhados com o covid-19 grave em crianças.
Os médicos compararam a complicação misteriosa à síndrome do choque tóxico e à doença de Kawasaki que, combinadas, causam inchaço interno prejudicial, febre e problemas respiratórios — todos sinais marcantes do covid-19.
Porém, algumas das crianças que necessitam de tratamento intensivo apresentaram resultado negativo para o coronavírus, complicando ainda mais o diagnóstico e levantando questões de que outro patógeno poderia estar por trás da doença.
Sendo assim, ainda não há respostas concretas a dar para a população, mas é muito importante que, se os pais notarem estes sintomas mencionados em seus filhos, devem entrar em contato com as unidades de saúde o quanto antes, relatando os sintomas.
Fonte: Daily Mail