Wic Tavares é uma jovem carioca de 25 anos que, em 2022, sairá como intérprete oficial da escola de samba Unidos da Tijuca no Carnaval. É a primeira vez na história da escola que uma mulher ocupará esse posto.
O samba e o Carnaval estão no DNA de Wic, filha de Wantuir, que defendeu a Tijuca pela primeira vez em 2001 e voltou em 2019.
O pai já fazia isso há muito tempo e Wic estava sempre junto, desde pequena, aprendendo a andar e a sambar ao mesmo tempo. Agora, ela não é mais apoio e está lado a lado com seu maior incentivador.
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Vivendo o Carnaval há 25 anos
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Todos os anos que Wic tem de vida, ela tem de Carnaval ao lado dos pais – a mãe dela, Cecília, é apoio na São Clemente.
Quando ela tinha apenas 8 anos de idade, foi entrevistada em um dos carnavais ao lado do pai e ouviu quase que uma profecia:
“Uma emissora de televisão me entrevistou quando eu tinha 8 anos, ao lado do meu pai, e a repórter disse que no futuro eu iria substituí-lo. Hoje, estou muito feliz porque não o substituí, mas estou ao lado dele e na posição onde sempre quis estar”, contou Wic, em entrevista para UOL.
Vendo que queria seguir os passos do pai e cantar em escola de samba, Wic teve sua primeira vez como apoio de carro de som de uma escola aos 15 anos, na Inocentes de Belford Roxo, quando a agremiação estava no Grupo Especial.
Depois disso, passou pela Portela, Estácio de Sá, São Clemente, Porto da Pedra, Viradouro, foi campeã do Carnaval ao lado de Neguinho da Beija-Flor e se apresentou até em terras paulistanas, na Tucuruvi.
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Empoderada e mais forte do que o machismo
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Ao longo de todos esses anos vivenciando o núcleo dos carnavais de várias escolas de samba, Wic sabe bem como o meio é machista em alguns aspectos.
Ser uma das vozes principais da escola é um deles, pois esse ponto é quase sempre ocupado por homens.
Só que Wic se mostrou talentosa e competente o bastante para ser reconhecida. Ano passado foi convidada a defender o samba da Tijuca, “Waranã – A Reexistência Vermelha” (que será apresentado este mês de abril, depois dos desfiles serem adiados por causa da pandemia do coronavírus), mas Wic achou que não seria capaz.
“Por causa do machismo no meio tive medo e falei que não sabia se aceitaria. Perguntei para minha mãe, e ela falou que eu tinha que arriscar. Fui e, quando cantei, todo mundo chorou.”
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As mulheres estão conquistando mais espaço no Carnaval
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Você pode pensar que é um erro dizer que as mulheres não têm espaço no Carnaval. De fato, elas estão em peso nas escolas, desfilando nas alas, integrando a bateria e ocupando os postos de madrinha e rainha de bateria. Ótimo, mas não basta! Existem cargos para os quais o machismo ainda impera.
Das 12 escolas do grupo especial, apenas Tijuca e Paraíso do Tuiuti terão uma mulher como intérprete — Grazzi Brasil defende a escola de São Cristóvão —, unindo-se ao pequeno número de mulheres que estiveram no posto, como Tia Surica e Clara Nunes, na Portela, e Elza Soares no Salgueiro e na Mocidade.
O cenário predominantemente masculino se dá em todos os outros cargos importantes nas agremiações. Não há, por exemplo, uma mestre de bateria, e apenas Rosa Magalhães assina como carnavalesca, na Imperatriz Leopoldinense.
“A gente está sempre na coxia. Eles dizem que a mulher não tem potência. Mas sabe o que acontece? Eles põem a gente como apoio porque tem homem que não aguenta até o final. Então como a gente não consegue levar? Eu cantei e estou ótima”, disse Wic.
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Acontece que, como recorda Wic, foi uma mulher que enfrentou as proibições e ajudou a manter o samba vivo.
Foi a baiana Tia Ciata quem levou o samba para o Rio e recebeu bambas em sua casa na Praça Onze, em uma época em que essas reuniões eram proibidas. Foi lá na casa dela, em 1916, onde nasceu o primeiro samba da história, “Pelo telefone”, de Donga e Mauro de Almeida.
“Muita gente não sabe a real história. Pergunta a qualquer componente quem é Tia Ciata. Ninguém sabe responder. E acho que falta acabar com o tabu de que mulher não sustenta o samba. Se a mulher criou o samba, ela consegue levar”, finaliza Wic, com orgulho.
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Fonte: UOL Universa