Matheus Soliman, de 22 anos, é cantor sertanejo e piloto em formação. Ele e o amigo Fábio de Souza, também em formação para ser piloto, decolaram no dia 4 de outubro, às 7h da manhã, do Aeródromo Paço do Lumiar, em São Luís, com destino a Machadinho do Oeste, em um avião PT-VJV Seneca 3, com um passageiro. O último sinal da aeronave foi registrado em Paragominas (PA), cidade que fica a 314 km de Belém.
“Foram 24 dias sofridos demais, não tem nem como explicar tudo o que passamos. Foram 24 dias sem comer nada. A gente até procurava, mas não achamos nenhuma fruta na mata. Sobrevivemos só com a água de poças e da chuva”, diz o sertanejo, em entrevista para o UOL.
Finalmente, no dia 28 de outubro, Matheus e Fábio conseguiram encontrar uma fazenda e pedir ajuda, em Colniza (MT). Durante a viagem de volta para casa, em Primavera do Leste (MT), Matheus contou como tudo aconteceu.
“Eu sou piloto em formação, conheço bem avião e, como estava me saindo bem nas aulas, eles pediram para fazer uma viagem-teste. Tanto é que consegui lidar com a pane e fiz um pouso forçado. Assim que conseguimos sair da aeronave, ela pegou fogo. Eu e meu companheiro estarmos vivos é um milagre”, explica Matheus.
Por estarem indo muito bem na semana de treinamento que tiveram em São Luís (MA), Matheus e Fábio foram fazer um voo de teste entre São Luís e Machadinho do Oeste (RO). Quando o avião estava a cerca de 400km do destino, teve uma pane, que Matheus conseguiu lidar fazendo um pouso forçado na mata.
“Nos primeiros dias, a gente encontrou um rio. Ficamos caminhando às suas margens, mas uns sete dias depois, a gente entrou na mata e nos perdemos, aí acabamos ficando sem água. Quando chovia, usávamos folhas como recipiente para conseguir pegar a água da chuva e beber; outros dias, encontramos poças de água da chuva e tomamos daquela água mesmo. Tentávamos fazer um filtro com a camiseta para beber essa água, para não vir a terra e a sujeira para a garganta”, relatou o jovem.
Matheus e Fábio continuaram caminhando em busca de comida e de ajuda, mas sentiram na pele que andar pela mata fechada não é uma tarefa para qualquer um. O corpo sofre e acaba deixando a mente fraca. Ainda bem que eles estavam juntos, dando suporte um ao outro.
“Na mata fechada, você não tem noção de localização e por muitos dias acabamos andando em círculo e nos perdendo muitas vezes. Manter o psicológico era o mais difícil. Muitas vezes pensamos em desistir, chegamos a pensar em suicídio, mas um ia dando forças para o outro e ajudava acalmar a situação”, relata o cantor sertanejo.
Os dois jovens caminharam muito, se perderam e não têm ideia do quão longo foi o trajeto. Matheus estima que andaram mais de 50km pela mata. Mas ele tinha um motivo a mais para continuar firme e forte em busca de ajuda.
“Minha maior força era minha filha, que nasceu no período em que eu estava perdido. Todo dia eu pedi: ‘Deus, deixa eu conhecer a minha filha'”, acrescenta.
Finalmente eles encontraram ajuda
Depois de 24 dias caminhando, muito cansados, com sede e fome, Matheus e Fábio finalmente encontraram uma fazenda. Eles receberam abrigo, se alimentaram e Matheus usou o celular de um dos moradores do local para avisar sua família que estava vivo e bem, dentro do possível.
“Liguei por chamada de vídeo para a minha mãe. Por duas vezes ela não atendeu, só na terceira ela aceitou a chamada. Quando ela me viu, ela só conseguiu gritar ‘meu filho’ e já começou a chorar. Eu comecei a chorar do outro lado da linha e foi só choro. Na hora, minha esposa estava ao lado da minha mãe e pude conhecer a minha filhinha”, finalizou.