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Cabeleireira cursa Direito em busca de justiça pelo irmão

Morto por policiais, ela acredita na inocência do irmão e não vai abandonar sua história

Crédito: Freepik

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O Brasil é um país complexo, onde infelizmente ainda há muitos problemas em todas as esferas. A polícia é uma instituição forte e respeitada, mas podem acontecer problemas e, sim, eles são cruéis e doem. Não somente nas famílias abandonadas e injustiçadas, mas em todo o sistema, que mancha o nome do que representa ordem e respeito.

São muitos os casos diários e anônimos de verdadeiros heróis que dão sua vida para proteger a população. Eles lutam por um país seguro, resgatam vidas e impõem a ordem. Porém, há casos de abuso de poder, descontrole emocional e assassinato a sangue frio. O caso da cabeleireira é um daqueles, com histórias mal contadas e versões estranhas.

Ainda não se pode dizer qual é a versão certa, se da família ou da polícia. E é esse o motivo para que essa mulher tenha começado a estudar Direito. Ela quer entender como funciona o sistema e lutar para prender quem ela afirma ter matado seu irmão. Como um crime leva 10 anos para prescrever, ela planeja se formar e reabrir o caso com suas mãos.

Cabeleireira estuda Direito em busca de justiça

É importante relatar que o caso está arquivado e o policial inocentado. Tendo isso em mente, vale ressaltar que toda informação aqui representa a versão da família. Será apresentada também a versão dada pela polícia, encontrada nos registros.

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Esses casos são complexos e não devem ser julgados a partir de informações soltas e sem a devida fundamentação. Por isso não é intenção do artigo encontrar uma resposta ou apontar certo ou errado. O foco é apresentar os fatos e mostrar como uma situação de dor pode levar a grandes realizações e crescimento pessoal.

Bruna Maria dos Santos tirou da dor da perda do seu irmão, o pedreiro José Filho dos Santos, com apenas 33 anos, a força para mudar. Além disso, ajuda a sua família a superar o luto, pensando em uma justiça que eles  esperam encontrar. Ela começou a estudar Direito e diz que ainda vai mostrar que a versão da família é a verdadeira.

E o que aconteceu? De forma genérica, seu irmão foi assassinado por um policial, na porta de casa. Sua filha de 6 anos viu tudo, de debaixo da cama, onde correu para se esconder quando o pai foi chamado à porta. Mais um caso triste de uma família interrompida pela violência, só que com versões diferentes.

Sem detalhes ou versões, o que aconteceu foi o seguinte. José estava de folga, era final de semana e ele estava cozinhando para a esposa e duas filhas. Era cerca de 17h30 e ele estava ouvindo música alta. Há muito que ele e o vizinho discutiam por causa disso, mas, por lei, nesse horário ainda é permitido fazer barulho.

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Uma discussão antiga, vizinhos incomodados e clima de tensão. Um final de semana comum em muitos lugares do país. Mas tinha um porém, um dos dois estava armado. O vizinho incomodado é policial e não hesitou em utilizar, para manter a ordem. Depois de tomar o tiro, ele foi para o hospital, onde faleceu.

Claro que faltam muitos detalhes nessa história, então veja cada versão, a dos policiais e a da família, e tire suas conclusões.

Veja também: idosos ganham casa construída pelos vizinhos

Versão dos policiais

Essa é a versão que está registrada e arquivada. Para eles, José sofria com alcoolismo e estava agredindo a filha de 6 anos, com a ajuda da sua esposa. Esse foi o motivo que levou o policial armado até a casa do vizinho, para uma abordagem segura e resgate da criança.

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Chegando lá, de acordo com os policiais, José foi com um facão na direção do policial, que atirou para se defender e salvar a família. Eles disseram que mandaram a criança ir para o quarto onde estava o bebê e ficar lá. Foi chamada a ambulância, mas o homem não resistiu aos ferimentos e veio a óbito.

Versão da família

De acordo com a família, a briga dos dois já vinha de longa data, com diversas ameaças. José não cedia, pois afirmava não ser bandido e por isso não tinha medo da polícia. Ele estava sofrendo, sim, com o alcoolismo, mas de acordo com a esposa, a filha do casal e as testemunhas, ele nunca levantou a mão para ninguém.

Quando o policial chegou na porta da casa, a filha estava com o pai na cozinha, acompanhando enquanto ele cozinhava. Já a mãe estava tomando banho, enquanto o bebê dormia no quarto. O policial foi até a casa para reclamar do volume da música, que estava muito alto e o incomodando. José disse que não abaixaria, pois estava no direito dele.

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Foi então que o policial mandou a menina para o quarto e chamou José à porta. Ela correu e se escondeu embaixo da cama, de onde dava para ver tudo. O policial então atirou em seu pai, fechando a casa em seguida e chamando a ambulância.

Sua esposa correu enrolada na toalha para a sala e o policial mandou que ela voltasse, sentasse no vaso e abaixasse a cabeça. Em seguida foi ao banheiro e ameaçou a mulher, dizendo que era para falar o que ele tinha mandado ou ela também morreria. E foi o que ela fez, com medo de deixar as filhas sem amparo.

Dados que não batem

São versões bem diferentes, que não batem em muitos pontos. Mas algumas coisas são realmente estranhas. Primeiro, a filha não apresentava nenhum sinal de agressão ou qualquer tipo de violência, depois de passar pelo exame de corpo de delito.

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Na versão do policial, a mãe estava espancando a menina (sem marcas) junto com o pai, porém, na versão da família, ela estava no banho. E ainda foi ameaçada e mandado que ficasse em uma posição de criminosa.

Além disso, a esposa foi coagida a contar uma versão no depoimento, sob ameaça de morte. Depois, teve coragem de contar a verdade, com incentivo de Bruna. E essa versão foi arquivada junto com a anterior, sem surtir efeito nenhum.

Outro ponto que deixa ainda mais dúvidas é que a filha foi testemunha visual do crime e nunca foi chamada para ser ouvida, um procedimento normal nesse tipo de caso. No mínimo estranho, mas é necessário conhecimento para julgar, o que não é o caso aqui.

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E é exatamente essa a motivação para a cabeleireira Bruna estudar Direito pela manhã, já completando o quarto semestre. Pela tarde, ela ainda trabalha como cabeleireira para pagar o curso e as contas.

A polícia deve estar à disposição para servir e proteger. Veja um desses exemplos com essa entrevista, feita pelo Danilo Gentili.

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