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Brasil tem a maior população de domésticas do mundo

Racismo, herança ou simplesmente desigualdade?

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O Brasil é o país que mais possui trabalhadoras domésticas em todo o mundo. São pelo menos 7 milhões de profissionais do setor. A maioria é mulher, negra e de baixo nível de escolaridade. Os dados são fornecidos por uma pesquisa realidade pela Organização Mundial do Trabalho (OIT). De acordo com especialistas o pior não são os dados, mas sim os motivos que levaram a eles.

O trabalho doméstico como é praticado no Brasil atualmente é uma herança da abolição da escravatura. Os escravos libertos e seus descendentes viveram e ainda vivem à margem da sociedade. Apesar de livres, continuaram e continuam a servir a uma elite branca, rica, machista e com poder social e político que obriga essa parcela da população a trabalhar por migalhas.

Números importantes

Uma pesquisa realizada pela ONU Mulheres e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra dados que confirmam essa herança. De 1995 a 2015 há uma predominância de mulheres negras e de pouca escolaridade no setor.

Em 1995 havia 5,3 milhões de trabalhadores domésticos no Brasil. Desse número, 4,7 milhões eram mulheres. O número de mulheres se dividia entre 2,6 milhões de negras e pardas e entre 2,1 milhões de brancas. As brancas possuíam uma média de 4,2 anos de estudo, sendo que as negras possuíam um número menor: 3,8 anos.

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Já em 2015, subiu para 6,2 milhões de domésticas no país. Desse número, 5,7 eram mulheres. As negras chegavam a 3,7 milhões e as brancas a 2. O nível de escolaridade de ambos os grupos ficou com 6,9 anos de estudo para brancas e 6,6 anos para negras.

Uma herança racista

O Brasil foi um dos últimos países a abolir a escravidão. Percebe-se que há uma ligação muito forte entre os dados sobre as domésticas e esse período da história. Muitas das domésticas que trabalham no Rio e em São Paulo, por exemplo, vêm do Nordeste e do Norte. Essas eram regiões em que havia muitas famílias de escravos.

Mesmo após a libertação dos escravos, os negros, principalmente as mulheres, continuaram a ser vistos como servos informais. Pagava-se pouco, às vezes apenas com alimentação e um lugar para morar. Sendo assim, as domésticas hoje são negras em sua maioria porque era esse posto que suas ascendentes ocupavam logo após serem libertadas. É uma herança.

Hoje ainda se vive um racismo estrutural na sociedade brasileira. No geral, o Brasil continua a alimentar a desigualdade social estabelecida após o término da escravidão. Atualmente, assim como há séculos atrás, ainda dizem à mulher negra para ela se colocar em seu lugar. Estruturou-se que ela pertence à servidão, ao subúrbio, à favela, ao trabalho doméstico.

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Desigualdade social

Por fim, desde a libertação dos escravos há uma tentativa de inferiorizar o povo negro. O próprio caráter informal da profissão de doméstica mostra isso. A conquista de direitos dessas profissionais é muito recente – e muitas continuam na informalidade apesar disso. É uma tentativa quase automática de manter a população negra em postos de trabalho inferiores.

Isso se relaciona à desigualdade. Quanto mais desigual é o país, mais profissionais de limpeza possuirá. Principalmente se o país apresentar uma educação básica de baixa qualidade, que não permita ao cidadão mais pobre ascender profissionalmente. O resultado disso é a formação de postos de trabalho informais e de baixa remuneração.

Dessa forma, compreende-se por que o Brasil tem tantas profissionais domésticas. Passa primeiro por uma herança racista. Há, depois, uma manutenção da desigualdade social que privilegia uma parcela da sociedade em detrimento da outra. É preciso uma mudança na sociedade ou os números mostrados pelas pesquisas só aumentarão nos próximos anos.

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