Assim como grande parte das pessoas homossexuais e transexuais, Ana Carolina Apocalypse também levou uma vida fechada dentro do armário para evitar o julgamento da sociedade.
Embora a década de 1970 fosse marcada por revoluções de jovens em busca da liberdade de expressão, não havia informação clara e disponível, como tem hoje, para entender sobre o assunto.
Então, desde quando era pré-adolescente ela sabia que tinha preferência por meninos, mas pensava que era um menino gay.
“Em 1970 eu tinha 12 anos de idade e eu me sentia uma menina, levava os meninos para casa para namorar, eu era muito atentada, mas eu achava que eu era um viado. Pois não tinha informação”, disse ela.
Ana também se mantinha fechada porque dentro de casa a comunicação não era livre. Sua mãe não dava abertura para assuntos tão polêmicos e, quando ela tinha 14 anos, seu pai faleceu, deixando uma marca de tristeza na sua vida.
“Fui crescendo, mas tinha medo da homofobia e preconceito. Eu sofri comigo mesma não me abria com ninguém, minha mãe muito enérgica e perdi meu pai aos meus 14 anos”, declarou.
Bem, os tempos mudaram, a informação chegou mais do que nunca antes, e Ana Carolina entendeu que, apesar de ter continuado a namorar homens na vida adulta, não era um homem gay, mas sim, uma mulher no corpo de um homem.
A inspiração
A sua grande inspiração foi quando assistiu à novela A Força do Querer, de 2017, que acompanhou a evolução de Ivana (Carol Duarte). A personagem se percebeu como um homem transexual ao longo dos capítulos e modificou o corpo a fim de adequá-lo à sua verdadeira identidade, se tornando Ivan.
Ana diz que se sentia igual à personagem da novela, mas ao contrário. Foi então que ela se viu representada e soube que merecia fazer algo a respeito. Desde o início ela teve o apoio de sua filha, e isso fez toda a diferença.
Essa grande decisão aconteceu quando Ana estava com 59 anos de idade, já na fase em que o corpo do homem está na andropausa. Mas a idade não a impediu de finalmente revelar sua verdadeira identidade a si mesma e ao mundo.
Realizando o maior desejo
Ainda no ano de 2017 a sua transição começou, depois que Ana procurou o SUS e passou por uma equipe de profissionais de saúde que a prepararam para a transição de forma física e psicológica.
“Primeiro fui encaminhada para um endocrinologista, para fazer exames e saber se meu organismo estava apto para a ingestão de hormônios. Em seguida conheci a psicóloga que me acompanha até hoje. Por fim, em 2019, fiz a cirurgia para colocação da prótese mamária, que foi para mim a maior das realizações. Estava tão feliz e completa que nem senti dor na cicatrização”.
Em 2020, agora com 62 anos, Ana Carolina se sente mais à vontade para falar sobre a sua história. Em uma entrevista para o portal Universa, do UOL, ela revelou sobre como se sentia ainda na infância:
“Sempre fui menina, mas com corpo de menino. Tenho uma irmã e, quando era pequena, costumava pegar as roupas dela para vestir. Como tinha receio da reação das pessoas, só fazia isso às escondidas, dentro de casa”, relembra.
Atualmente Ana está bastante popular nas redes sociais. Em seu Twitter, que tem quase 120 mil seguidores, e no seu Instagram, que tem mais de 52 mil seguidores, ela publica fotos da sua rotina e fala sobre a sua vivência nesse novo universo que abriu muitas portas para incríveis experiências.
Ela inclusive foi convidada recentemente pela marca Nívea para participar de um desafio no TikTok com a #ShareTheCare.