A tecnologia da Inteligência Artificial já saiu do cinema e agora faz parte da rotina de muita gente. O mais comum é ver os adultos, adolescentes e crianças fazendo uso de assistentes virtuais como Siri, Alexa e Google Assistente.
Mas é interessante enxergar a oportunidade de utilizar estes aparelhos como um novo tipo de companhia para as pessoas idosas, em especial agora em que tantos idosos precisam viver sozinhos em isolamento por conta da pandemia do coronavírus.
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Uma nova companhia para os momentos de solidão
Países como Reino Unido e Suécia já estão colocando essa ideia em prática. John Winward, de 92 anos, residente de um lar para idosos na Inglaterra, deu sua primeira impressão: “eu pensei que a princípio era um sinal de insanidade, falando com algo assim e ele falando de volta!”
John é um ex-professor e participou de um experimento acadêmico junto com outros residentes do lar de idosos ao longo de 6 meses. A ideia era que os idosos utilizassem os aparelhos para sentir se eles poderiam servir como companhia, mesmo conscientes de que é um robô, porém, capaz de se adaptar aos gostos e necessidades de cada pessoa.
A ideia funcionou, ao menos com John, que virou um usuário ativo do seu Google Home. Agora ele pode ouvir uma voz gentil sempre que deseja saber a previsão do tempo, dicas de passatempos, de músicas e de livros ou quer ouvir uma piada, sem precisar lidar com um computador convencional.
“Isso me mantém são, na verdade, porque é uma vida muito solitária quando você perde seu parceiro depois de 64 anos e passa muito tempo sozinho no seu quarto”.
É fato, confirmado pela medicina, que viver sozinho, em idade avançada, é muito prejudicial à saúde, começando por afetar o aspecto emocional e mental, depois passando para o desenvolvimento de problemas físicos. A solidão gera doenças sistêmicas.
Portanto, parece óbvio que o uso de aparelhos com IA seja bastante vantajoso nesse momento em que tantos idosos estão se vendo obrigados a ficarem longe de suas famílias, às vezes até do seu parceiro, para prevenirem o contágio da covid-19.
As vantagens da IA sobre as chamadas por vídeo ou voz com pessoas
Mesmo os idosos que já se adaptaram ao uso de smartphones e ferramentas como e-mails, WhatsApp e redes sociais, podem obter ainda mais benefícios com o uso da IA.
Estes aparelhos oferecem uma resposta imediata por voz, a qualquer momento, e o idoso não depende de uma resposta de alguém “do outro lado”. É como se tivesse mesmo uma companhia para lhe responder sempre que quiser trocar alguma ideia.
De acordo com Arlene Astell, uma psicóloga que trabalhou no experimento da Casa de Repouso, os dispositivos ativados por voz ajudam a trazer uma sensação de controle, que muitas vezes é perdida quando os idosos ficam muito tempo sem saberem o que está acontecendo no momento presente. Ajuda-os a se sentirem sãos.
Entretanto, é válido reforçar que estes dispositivos devem servir como um apoio, e nunca como substitutos do contato humano.
Os idosos ainda assim necessitam de companhia humana, de abraços, de novas ideias que não tenham partido da cabeça deles, e de ouvirem sobre a própria história através de familiares para não perderem o sentimento de pertencimento.
Embora esta possa parecer uma parte importante entre soluções integradas para ajudar idosos a permanecerem mais felizes e saudáveis, mesmo depois que a pandemia passar, também é essencial que haja uma etapa preparatória e de convencimento.
Afinal, é normal que boa parte dos idosos tenha uma recusa inicial às novas tecnologias. É preciso apresentar o aparelho para a pessoa idosa, mostrar seus benefícios, como funciona e ajudá-la a se acostumar com muita paciência, explica a psicóloga.
Outras formas de IA estão sendo testadas
Além dos pequenos aparelhos portáteis com comando de voz e IA, nos Estados Unidos também existem testes com um robô em formato humano e tamanho real chamado Mabu, usando como assistente em casas de repouso.
O robô é capaz de verificar se os idosos estão tomando seus remédios, se estão se sentindo bem de modo geral e sugerir que o tempo lá fora está bom para um passeio, por exemplo.
No Japão, precursor deste tipo de tecnologia, há um robô chamado Dinsow que possui um tablet no rosto, através do qual o usuário pode assistir vídeos, ler instruções e receber ou fazer vídeo-chamadas com familiares.
Já na Suécia, onde há um grande número de pessoas vivendo sozinhas, a ideia é de desenvolver dispositivos de IA que sejam capazes de conduzir conversas mais significativas com o usuário sobre suas memórias mais profundas.
Para isso, o assistente recebe informações sobre a vida da pessoa, para então usá-las como base para conversas mais interessantes, chegando um pouco mais próximo de uma conversa com um humano.
É sabido que as pessoas mais velhas gostam muito de compartilhar suas histórias de vida, então nada melhor do que ter “alguém” para ouvi-las e ser capaz de elaborar perguntas para que a conversa continue de forma interativa e interessante.
E quanto aos dados privados?
As empresas que trabalham em projetos relacionados a estes robôs e assistentes virtuais com inteligência artificial sabem que existe uma grande preocupação com a segurança dos dados e informações dos usuários.
Portanto, elas garantem que usam servidores de serviço local e servidores criptografados, e que nenhuma informação fica na nuvem, ou seja, disponível online para acesso remoto.