Martin Pistorius nasceu em 1975, na África do Sul. Ele era uma criança como a maioria: saudável, frequentava a escola, brincava com amigos e se desenvolvia bem. Porém, por volta dos seus 12 anos de idade, o menino começou a ter problemas de locomoção.
Durante os 2 anos seguintes, Martin perdeu completamente os movimentos do corpo e ficou em estado vegetativo. Os médicos desconfiavam de uma meningite criptocócica ou tuberculose no cérebro.
Vivendo como um vegetal
O garoto passou a precisar de cuidados para tudo. Durante o dia ele era levado para uma clínica onde eram feitos tratamentos e mais testes para acompanhar o que estava acontecendo em seu corpo. À noite, seu pai o buscava para dormir em casa. Ele precisava ser vigiado e o pai virava seu corpo de um lado para o outro a cada 2 horas para evitar feridas.
Mas, mesmo com os cuidados que eram possíveis, Martin não apresentava melhora alguma. Com o passar do tempo, sua família não teve mais condições de manter o tratamento na clínica particular. Então, seu pai o internou em uma casa de repouso, onde chegou a ser cuidado por pessoas incapacitadas a essa atividade.
Para reduzir ainda mais os custos, Martin foi levado para um quarto menor, apenas com uma televisão, um armário e uma cama com regulagem de movimentos. A família acreditava que o local onde o garoto vivia não fazia diferença, já que ele não estava consciente.
De acordo com os médicos que cuidavam de Martin, ele tinha regredido mentalmente e possuía a capacidade cognitiva de um bebê de 3 meses. Sendo assim, todos pensavam que ele não estava prestando atenção em nada do que acontecia ao seu redor.
A vida do adolescente foi vivida dentro desse pequeno quarto, com a televisão ligada sempre na mesma programação e com as pessoas o tratando como um vegetal até o ano de 1992, quando ele estava com 17 anos.
Um prisioneiro desesperado por atenção
Porém, foi nessa época que Martin recuperou sua consciência e começou a ser capaz de mexer os olhos para se comunicar. No entanto, ninguém fazia contato visual por tempo o bastante para perceber que ele estava de volta.
Nos 2 anos seguintes a memória e os pensamentos do jovem foram ficando mais ativos, porém ele ainda só conseguia mexer os olhos. Mesmo depois de todo esse tempo, nem os cuidadores, nem os médicos e nem os familiares notaram diferença.
Por conta disso, Martin passou a viver como um prisioneiro desesperado: presenciou vários momentos de brigas dos pais em sua frente, sentia a forma com que as pessoas lidavam com seu corpo, não suportava mais assistir ao mesmo programa de TV 24 horas por dia. Ouviu os pais dizendo que seria melhor se ele morresse, e foi abusado sexualmente por um de seus cuidadores.
A salvação
Mesmo tratando Martin ainda como um vegetal, seus pais continuavam em busca de um tratamento eficaz para ele. Foi quando conheceram a aromaterapeuta Virna van der Walt, que tinha 25 anos na época e foi contratada para ser a nova cuidadora dele.
Virna foi a primeira pessoa que prestou atenção ao olhar de Martin, e assim ela percebeu que ele tentava se comunicar com os olhos. Começou a lhe fazer perguntas para que ele respondesse com piscadas, e confirmou sua desconfiança: ele estava consciente de tudo.
A jovem conseguiu provar aos pais de Martin que ele estava de volta e precisava de ajuda para se recuperar. Então ele passou a frequentar o Centro de Comunicação Aumentativa e Alternativa da Universidade de Pretória. Em um ano, já conseguia se comunicar por um computador.
Uma recuperação libertadora
Com todos os estímulos recebidos nos tratamentos, Martin passou a conseguir digitar e evoluiu para uma cadeira de rodas, a qual conseguia conduzir sozinho. Ele ganhou um computador com um software de fala, no qual ele digitava e o computador dizia as palavras por ele.
Foi assim que a família de Martin ficou sabendo que ele estava consciente de tudo o que eles faziam com ele nos últimos anos, e ficaram chocados.
A vida de Martin foi melhorando, inclusive começou a namorar com Joanna, que o levou com ela para o Reino Unido. Atualmente ele vive feliz com a esposa e o filho, é escritor e palestrante, além de competir em corridas de cadeira-de-rodas.
Se quiser conhecer essa história em detalhes, Martin escreveu tudo no livro Quando eu era invisível: A impressionante história de um menino preso ao próprio corpo, Martin Pistorius, 2017.